Também temos o adulfe como integrante desta família, espécie de pandeiro quadrado, com membrana bilateral, geralmente adornado com fitas e sem platinelas (aquelas pequenas placas cromadas ou niqueladas de latão ou bronze que produzem o som metálico do instrumento). A partir da Idade Média, na Europa, adulfes, pandeiretas e pandeirolas difundiram-se através dos toques dos artistas ambulantes, sendo utilizados em festas folclóricas pela Itália, Espanha e Portugal, até darem entrada no ambiente da Côrte e integrarem-se às orquestras.
A migração portuguesa para o Brasil traria consigo a tradição das procissões, pastoris e, consequentemente, os primeiros registros de utilização do pandeiro em meados do século XVI, em celebrações de Corpus Christi. Assim, instala-se o pandeiro que, juntamente com as manifestações africanas, foi sendo utilizado e modificado até ganhar identidade nacional com a MPB e uma forma muito especial de execução. Hoje, o leque de ritmos que o instrumento abarca é imenso, tendo-se fixado como referência desde o samba, o choro e o frevo, até ritmos menos convencionais como o funk.
No Nordeste nasceu um dos maiores ritmistas, o paraibano Jackson do Pandeiro, que se radicou em Pernambuco e fez nome com suas levadas, toques e batuques no forró. Cada instrumentista tem os seus truques, mandingas e façanhas singulares de expressão manual, que dão o molho rítmico e contagiante necessários para a música. Pondo-se à parte a fabricação em série, igualmente especial é a forma de fabrico artesanal do instrumento: cada artesão com suas técnicas de tratar a madeira, parafusá-la, envernizá-la, além da escolha do couro de cabra para se extrair o desejável som grave veludoso. Nesta linha de manufatura meticulosa, podemos citar os nomes de Aluízio de Fortaleza, Lanka de Campina Grande e Chico Nunes do Recife.
João Araújo é compositor, pandeirista e aluno do Mestrado
em Criações Literárias Contemporâneas
da Universidade de Évora, Portugal