segunda-feira, março 27, 2006
Cabeça a prémio
Charlie Finch eating Mary Boone, Elliot Arkin
Talvez Charlie Finch seja actualmente um dos criticos de arte mais conhecidos e polémicos da blogosfera, sobretudo pelo teor dos seus artigos na artnet Magazine e por ser co-autor do livro "Most Art Sucks: Five Years of Coagula".
Homem de Palavra[s] (Partilha Literária)
“A minha unha tem crescido tanto
e entretanto vim morrendo pouco a pouco
temi amei preocupei-me com problemas
fui feliz vivia vida emocionei-me
Venceram-se diversas prestações
A minha poesia é por vezes mínima e mesquinha
Aqui estou eu perdido na contemplação da unha
a unha pequenina a que regresso sempre
Não canto aras nem barões nem mesmo este mar
que desdobradamente aqui vem rebentar
em ondas de água azul em algas e pedrinhas
Afinal tão instrutivo é
perder-me em contemplação do pé
descalço aqui à doce beira-mar
como aprofundar os mistérios deste dia
em que cristo instituiu a eucaristia [...]”
Corpo De Deus in “Homem de Palavra[s]” de Ruy Belo [Editorial Presença]
Escrever sobre um livro de poesia não me é fácil... E torna-se ainda mais complicado quando resolvo escrever sobre um dos meus poetas preferidos: Ruy Belo.
O que posso eu escrever sobre a poesia de Ruy Belo?
O que devo eu escrever sobre a poesia de Ruy Belo?
Bem, posso, devo, aliás, prestar homenagem ao homem (de palavra[s]), ao poeta (esquecido [entristece-me saber que há quem nunca tenha ouvido falar da poesia de Ruy Belo]), por cuja poesia me apaixonei. Gosto da maneira como Ruy Belo pega dos elementos do (seu) quotidiano e consegue criar poesia: a criança, a árvore, o homem, a mulher, o amor, e a morte. Gosto ainda da maneira, corajosa, como escreve sobre Portugal, numa época em a ditadura oprimia tudo e todos.
Bem, acho que me fico por aqui...Porque se escrever mais sobre a poesia de Ruy Belo, poderá soar a exagero, mas perdoem-me, escrever menos seria, para mim, uma leviandade e um desrespeito à sua poesia.
sexta-feira, março 24, 2006
27 Março- Dia Mundial do Teatro
contacto: 266 703 137
terça-feira, março 21, 2006
Dia Mundial da Poesia
O que a mão escreve flui
como se viesse de uma nascente submersa
sem passar pela cabeça intermediária
Não sabemos ao certo qual é essa fonte de transparência apaixonada
como se as palavras pudessem desanuviar o mundo
e revelar os seus contornos ardentes
como se tivesse acabado de surgir dos flancos de um fogo criador
Por isso o poema é sempre mais do que a exacta fotografia
do que na mente já está ordenado ou é um caos vertiginoso
O poema é simétrico porque obedece a uma ordem interna
inscrita no espírito do universo interior
e é essa a liberdade de ser em plenitude aberta.
António Ramos Rosa
27 de Agosto de 1993
segunda-feira, março 20, 2006
Timbuktu (Partilha Literária)
“Até a esse momento, o sonho não diferia minimamente da realidade. Palavra por palavra, gesto por gesto, todos os acontecimentos tinham sido uma exacta e fiel tradução dos eventos, tal e qual acontecem no mundo real. Agora, porém, enquanto a ambulância arrancava e as pessoas regressavam lentamente às suas casas, Mr. Bones sentiu-se dividido em dois. Metade permaneceu na esquina, um cão contemplando o seu triste e incerto futuro, e a outra metade transformou-se numa mosca. Dada a natureza dos sonhos, talvez isso não tivesse nada de invulgar. Todos nós nos transformamos noutras coisas enquanto dormimos, e Mr. Bones não era excepção.”
in “Timbuktu” de Paul Auster [Edições Asa]
Este foi o primeiro livro que li do escritor norte-americano Paul Auster, pelo simples facto de a personagem principal ser um cão...
O livro “Timbuktu” conta a história de um cão, Mr. Bones, que vive desde cachorro com William Gurevitch, um poeta “apaixonado pelo som da sua própria voz, um genuíno e ferrenho legomaniaco que não conseguia parar de falar desde o instante em que abria os olhos de manha até que caía de bêbado à noite”, que ostenta no braço direito uma tatuagem do Pai Natal. E o acompanha no último capricho de William, antes de morrer: encontrar a sua antiga professora de Inglês e confiar-lhe os seus manuscritos. Mas, Mr. Bones tem um sonho, quase real, que acaba por se concretizar
e mudar o rumo dos acontecimentos...
quinta-feira, março 16, 2006
Oficina da Terra, em Évora - a visitar
Conheci a Oficina da Terra (de Tiago e Magda Ventura) há cerca de 3 anos e foi uma grande descoberta. Hoje e porque é época de celebração para eles (os artistas) aqui fica a lembrança de que este sítio mágico existe... visitem a oficina e deliciem-se com a criatividade...
Tiago Ventura
Frequentou o curso de Artes Plásticas, na Universidade de Évora. Aprendeu em 1999 os segredos da arte do barro com os mestres Orlando Guimarães e António Velho, da Olaria Guimarães/Velho em S. Pedro do Corval - Reguengos de Monsaraz. Esculpe e molda todas as peças da, por si criada com Magda Ventura em 1998, oficina da terra.
Magda Ventura
Nasceu em Reguengos de Monsaraz a 16 de Novembro de 1976. Participou em Workshops de pintura sobre olaria tradicional em S. Pedro do Corval - Reguengos de Monsaraz. Frequentou o Curso de Física e Química da Universidade de Évora. Pinta e finaliza todas as peças da, por si também criada, oficina da terra.
segunda-feira, março 13, 2006
Africa Minha (Partilha Literária)
“Quando se sobrevoam os planaltos africanos, desfruta-se de um panorama deslumbrante: extraordinárias combinações e cambiantes de luz e de cor, o arco-íris sobre a terra muito verde banhada de sol, nuvens gigantescas acasteladas e grandes tempestades selvagens e negras giram em nosso redor numa dança ou numa louca corrida. Aguaceiros violentos cortam obliquamente o ar. Não existem palavras para descrever esta experiência e, com o tempo, ter-se-ão de inventar novos vocábulos para a descrever.”
in “Africa Minha” de Karen Blixen [Relógio D’Água]
Quem me conhece, sabe que tenho, já algum tempo, um fascínio especial pelo continente africano, ainda que não saiba explicar bem o porquê... O livro “Africa Minha”, de Karen Blixen, é uma das várias obras que me aguçaram a curiosidade por Africa e os seus povos.
“Africa Minha” é mais que um livro de memórias de Karen Blixen, durante a sua estadia no continente africano, é a homenagem que uma mulher presta ao seu amor: Africa. O livro está organizado em pequenas histórias, que se lêem como contos, pela forma melancólica e apaixonante como a autora as narra. Cada história tem o mérito de revelar uma perspectiva de Africa, desconhecida à maioria dos “não-africanos”, o que faz do livro uma referência literária mundial. Este livro obtém um enorme sucesso, que seria adaptado ao cinema, com o mesmo nome, onde alcançaria também o êxito: o filme “Out of Africa” (“África Minha” na versão portuguesa) receberá 8 Óscares. Pelo que, o visionamento deste filme, deve acompanhar a leitura do livro, ou vice-versa...
domingo, março 12, 2006
Thomas Cole (Lancashire, 1801 - NY, 1848)
sábado, março 11, 2006
A fantasia da invenção no Centro Cultural de Belém
Co-realização: CCB / Fundação Pt. / Fundação BNP-Paris Bas/CIRQUE – ICI/Sem Rede - Rede Nacional de Programação do Novo Circo
Tenda de Circo - situada atrás da Tenda branca
Duração:1h45
Johann Le Guillerm é um verdadeiro feiticeiro da matéria e do tempo, um feiticeiro da alma tranquila que transforma a matéria na forma dos sonhos. No seu espectáculo, estamos perante um encontro entre a ciência e a poesia, dentro de um segredo que só partilha quem a ele assiste.Com o seu olhar profundo, Johann Le Guillerm encontra o coração dos objectos para compreender a mecânica íntima das coisas e torná-la sua. Ele confronta-se com a matéria inanimada, com o seu próprio equilíbrio, pondo em cena a sua vontade e os seus limites. Tudo parece possível e o mundo reinventa-se.“Secret” é um espectáculo que busca uma nova fenomenologia para o circo, partindo de formas geométricas e leis da Física para
desenvolver o próprio processo artístico. No palco, objectos criados com base na ciência inovam o território das artes. O resultado é uma alquimia de uma fulgurante beleza que interroga a nossa relação com o equilíbrio e a beleza. Johann Le Guillerm: um artista de circo inclassificável entre os mais inovadores de hoje. Em “Secret”, o público inexperiente, seja qual for a sua idade, abandona-se nas mãos deste “grande feiticeiro” e começa a sonhar.A Fundação Portugal Telecom apoia o Projecto Attraction pela sua convergência com a nossa política de intervenção cultural, científica e pedagógica.Dias 7, 10,11, 14, 15, 17, 18, 24 a 25 de Março, às 21h; 12, 19 e 26 de Março, às 19h
segunda-feira, março 06, 2006
Suicide Commando
Suicide Commando apareceu por volta de 1986 quando Johan Van Roy começou a experimentar com musica eletronica usando este nome e em 1989 lançou a primeira de muitas tapes sendo que em 1994 lançou o seu primeiro CD Critical Stage pela editora Off Beat.
Johan usa, ao contrario do EBM inicial(que usava guitarras), apenas instrumentos eletronicos para criar a sua musica que é uma mistura de uma batida distorcida e energética com varias linhas de sintetizadores o que com a voz também um pouco distorcida cria um ambiente que é por vezes um pouco melancolico(ex. musica Love Breeds Suicide) e outras mais agressivo(ex. Cause of Death: Suicide).
Uma das minhas bandas favoritas dentro do genero, um bom começo para quem nunca tenha tido qualquer contacto com EBM/Industrial e uma banda de paragem quase obrigatoria para quem já conhece o genero.
Musicas que recomendo para quem quiser ouvir:
Acid Bath, Better off Dead e Ignorance do album Construct Deconstruct
Love Breeds Suicide, Body Cout Proceed e Raise Your God do album Mindstrip
Cause of Death: Suicide do album Axis of Evil
http://www.suicidecommando.be/
http://en.wikipedia.org/wiki/Suicide_Commando
http://en.wikipedia.org/wiki/Electronic_body_music
domingo, março 05, 2006
A Grande Noite de Hollywood
É já hoje à noite a noite da entrega dos prémios mais importantes da industria cinematográfica e queria deixar aqui uma pequena reflexão acerca dos principais filmes candidatos a vencerem nas categorias mais importantes. Não deixa de ser estranho verificar que na América de Bush, hoje muito conservadora, os filmes abordem directa ou indirectamente assuntos polémicos. Desde a homossexualidade de Brokeback Mountain e de Truman Capote em Capote, temos também Munich o filme mais polémico de Spielberg que chocou o poderoso lobby judeu dos EUA, temos o Good Night and Good Luck que fala de um período negro da história do Sec. XX Americano que infelizmente permanece actual. Há mais, o racismo em Crash, a sexualidade no mínimo complexa de Transamerica, etc. Não me interpretem mal, para mim o tema de um filme não influi em nada no valor artístico do mesmo, mas era um facto que não podia deixar de constatar.
Espera-se que Jon Steward consiga proporcionar o comic relief necessário. Eu só vi Capote mas ainda assim aqui vai o meu palpite num desafio que estendo a todos os leitores e membros do blog:
Melhor Filme: Munich de Spielberg
Melhor Actor: Philip Seymour Hoffman (Capote) mas gostava que fosse Joaquin Phoenix (Walk the Line)
Melhor Actriz: Felicity Huffman (Transamerica)
Melhor Actor Secundário: William Hurt (A History of Violence)
Melhor Actriz Secundária: Catherine Keener (Capote)
Melhor Realizador: Ang Lee (Brokeback Mountain)
sexta-feira, março 03, 2006
Charlie e a Fábrica de Chocolate
Aventura
Duração: 115
Data: 2005
Charlie, um menino bom e de origens humildes, conquista o coração do excêntrico chocolatier Wonka, que procura um herdeiro para o seu império de chocolate.
Mr. Bucket: Your mum and I thought, maybe you'd like to open your birthday present tonight. Charlie Bucket: Maybe we should wait until morning.
Grandpa George: Like hell.
Grandpa Joe: All together we're 381 years old. We don't wait.
quarta-feira, março 01, 2006
Uma Casa na Escuridão
Uma Casa na Escuridão é um romance com grande momentos de verdadeira poesia, um romance que prescruta a alma desesperada de um narrador, que encontra o verdadeiro amor na imagem de uma mulher reflectida dentro do seu próprio interior, mulher que não existe no seu tempo real, amor esse que é descrito e passado a papel noite após noite, centro único da sua vida que já se manifestava completamente despegada da vida real, na sua casa, vivendo com a sua mãe e a sua escrava, a casa na escuridão. A verdadeira poesia em prosa é a grande marca deste romance, encontra-se poesia em prosa a cada página, revelando em grande profundidade toda a introspecção do narrador, e tudo quanto ele sente, quanto ao amor e ao mundo que o rodeia. O romance tem momentos de espectáculo, momentos de tragédia, momentos de crueldade, momentos de humanidade também, grandes momentos fazendo lembrar actos teatrais, que não se esperam e que nos surpreendem quando o romance parece começar a entrar em monotonia poética. Resumindo, uma casa na escuridão com um ambiente de rotina mas com um grande e extenso passado, de tragédias e de tristeza, brutalmente sacudida por uma invasão, bárbara, que decepa com requintes de maldade todos os membros daquela casa; que, após isso, sobrevivem e continuam a viver sob o jugo dos seus invasores, encontrando ainda assim momentos de fraternidade salpicados por instantes de crueldade. Muita ficção, muita irrealidade num cenário de sentimentos absolutamente reais, onde toda a réstia de esperança se esvai, mostrando a nu toda a crueldade da humanidade mas em simultâneo toda a sua fraternidade, lado a lado e sem intervalos, a angústia de cada um como suporte de comunicação entre todos, a comunicação do silêncio sem necessidade de palavras, traduzidas pelas descrições e narrativas poéticas. Personagens identificados com os seus destinos, personagens que se cumprem, também personagens sem vislumbre do seu destino após julgarem se terem cumprido, é um romance extremamente rico que nos faz pensar nas suas várias dimensões após a leitura da última página.
Por tudo isto, Peixoto não fica a dever nada a outros grandes romancistas portugueses (e estrangeiros), notando-se uma enorme maturidade na complexa construção do seu poético romance de tragédia - talvez a utilização de demasiados vulgares lugares-comuns na sua construção poética, mas, se este ainda é o inicio da construção da obra de um romancista (2º romance) posso dizer que o Peixoto, ainda com muitos anos pela frente, parte com uma grande vantagem relativamente a muitos dos seus antecessores.
Link: http://www.nescritas.nletras.com/poemasjoseluispeixoto/