segunda-feira, julho 31, 2006

Vermelho (Partilha Literária)




“Sou o mais impensável dos descendentes. Dele, do Afonso de Amadeus. Que aliás, acabou por inventar o seu próprio nome, calculo que sim, não sei, é difícil de avaliar até onde é que o meu avô poderia ir, ter chegado ao certo. Deus – como se chamaria na realidade?
Eu, Tito.
Deve haver registos, uns registos vagos de que consta um judeu convertido ao catolicismo, de resto um louco sem fé nem lei que um dia no terceiro quartel do século XIX embarcou de Lisboa para as ilhas e levou na bagagem uma cadeira D. João V.
Como se tivesse previsto tudo. Sim, era um senhor. Ter-me-á previsto a mim? E a ti? Ter-te-á previsto?”


in “Vermelho” de Mafalda Ivo Cruz [Publicações Dom Quixote]

Nesta partilha literária, irei falar-vos de um dos últimos livros que li: “Vermelho” de Mafalda Ivo Cruz. Para quem não sabe, este livro foi galardoado com o Grande Prémio de Romance e Novela da Associação Portuguesa de Escritores. E este facto foi o principal motivo que me levou a ler este livro...
Antes de fazer um breve resumo da estória, devo prevenir os possíveis leitores que este romance está “construído” de uma forma fragmentada, em que a linha cronológica, simplesmente, não existe: o passado confunde-se com o futuro e vice-versa. E à medida que a narrativa avança, o narrador parece “desdobrar-se” em várias “personagens-narrador”. Pessoalmente, é este aspecto que torna este livro merecedor de ser lido, mas que exige um leitura atenta e paciente, para que se consiga “montar” todas as peças que encontram espalhadas ao longo do livro...
No livro “Vermelho”, Tito conta, num monólogo esquizofrénico, a génese da sua linhagem, iniciada pelo Afonso de Amadeus, proprietário em Cabo Verde, nunca se esquecendo de falar do seu grande amor: Nina...