Hugo Cabelo, entrevistado no dia 12 de Julho, enviou-nos um poema sobre o seu processo de criação. Apreciem...
Por Vezes Assim Nasce...
Acaba por ser engraçado,
Ter que vir para aqui,
Fugir ao mundo
Para te fazer existir.
Existir, já existias
Enquanto deambulavas pelo meu cérebro,
Numa posição incerta,
Carreiros criados à pressa
Só para te deixar passar.
Corres, saltas, vais de encontro
Ao que não se desvia do teu caminho
(por alguma via tens que sair),
Roças as paredes cranianas,
Envolves-te novamente
Fugindo à detecção,
Implodes devagarinho, concentras-te
E do nada rebentas incontrolável
Para seres expelido
Por actos ou palavras compulsivas.
Jorras por todos os poros
E o pobre sou eu
Por não ser veloz como tu
Deixando-te com faltas,
Disparidades, acabando por te perder
Emerges escrito incompleto
Das partes mais esquivas
Que se perderam.
Essas não morrem, nem se consomem,
Espreitam provocantes
Pelas entrelinhas.
No dia que te captar no teu todo
Tenho medo de te matar,
Não me impeço de continuar a tentar.
Hugo Cabelo