segunda-feira, abril 03, 2006

Grito (Partilha Literária)



“Estou num tempo impensável, cheguei a casa e a casa estava vazia, isto é, os sinais de quem a habitara, permaneciam — os óculos na mesa-de-cabeceira, o livro com a marca de leitura, a mala feita para as férias, o estojo com o pó-de-arroz e o baton — mas estava morta a pessoa desses sinais, ando por esta paragem súbita como um estranho, abro a porta do quarto e chamo: mãe: o som do nome come os resíduos da tua presença, a sombra pesa sobre a palavra, mas não a interrompe, prolonga-a até a tornar insuportável.
Choro a voz desmesurada.
Pela janela, o jardim espreita-me.”


in “Grito” de Rui Nunes [Relógio D’Água Editores]


Não sei dizer se comprei este livro, ou se me foi oferecido, apenas sei que “redescobri-o” à uns meses atrás, durante umas arrumações, sem que soubesse dizer se já o tinha lido... A verdade é que não o tinha lido mesmo...Já vós conto o porquê...
Rui Nunes parece ser um escritor desconhecido, apesar de este romance ter ganho o Grande Prémio de Romance e Novela da Associação Portuguesa de Escritores, em 1997, para a maioria dos leitores comuns, como eu. Uma possível explicação para que a obra literária de Rui Nunes permaneça no anonimato prende-se com o estilo da sua escrita... Foi este o motivo, pelo qual eu não li este romance na primeira vez que me veio parar às mãos. Por muito que me custe admiti-lo, tenho de reconhecer que não tinha a maturidade necessária para ler um livro como este: o livro tem uma leitura difícil e complexa, que exige a atenção do leitor. Mesmo assim, creio que alguns de vós que não conhecem o autor, ficarão curiosos o suficiente para lerem o livro...
Esta seria a altura que eu contaria um pouco da história do livro... Não o farei porque este livro é romance de sensações, dolorosas e desagradáveis; psicológicas e físicas, dos seus personagens, e em que a ideia da morte paira do princípio ao fim, algo demasiado complexo para resumir sucintamente. Além disso, correria o risco de deturpar a ideia principal do romance. Espero que compreendam...