Fui falar com o senhor Biva. Recebeu-me num estábulo que transformara em biblioteca. Pergunto-lhe: há quanto tempo não sai de casa?
- Que importância tem isso?
- As pessoas gostam de saber.
- Há uma semana. Só saio para me reunir com o pessoal.
- Diga-me, senhor Biva: no contexto literário português onde colocaria a obra de Lobo Antunes?
- Colocava-a ao lado do Joyce, numa prateleira na despensa onde tenho um viveiro de traças.
- E onde colocava os livros de Miguel Sousa Tavares?
- Numa máquina trituradora e fazia croquetes.
- Sei que tem um apreço reservado pela obra da Margarida Rebelo Pinto. Onde colocaria os seus livros?
- Punha-os na cama quando a minha mulher está com o período.
- E os livros de Miguel Esteves Cardoso?
- Colocava-os dentro dum preservativo e ia às putas com eles.
- É do conhecimento público que testemunhou o início literário de José Riço Direitinho. Onde colocaria os seus livros?
- Besuntava-os com alho e pendurava-os por cima da porta para afastar os fantasmas da imaginação.
- E a imensa obra de Gonçalo M. Tavares?
- Colocava-a dentro de uma pia de água benta, juntava-lhe um quilo de farinha filosófica e uma colher de fermento psicológico (pode ser a colher de Samuel), depois fazia uma papa generosa e alimentava os pobres de espírito.
- Sei que não suporta o Jorge Reis-Sá, mas faço-lhe a mesma pergunta.
- Fazia uma encomenda dos seus livritos e enviava-os para uma instituição de apoio à imbecilidade (com despesas a suportar pelo próprio autor).
- E onde colocaria os livros dessa figura pública que dá pelo nome de José Rodrigues dos Santos?
- Entre as maminhas da Adília Lopes.
- Mas essa poetisa é muito considerada.
- É uma Florbela Espanca em versão hardcore.
- Também acompanhou o início de carreira literária de Possidónio Cachapa. Onde colocaria os seus livros?
- Numa fogueira em noite de S. João.
- Está a ser muito vago, senhor Biva.
- Ok. Quando esse autor apareceu cá no meio escreveram que ele tinha feito uma entrada fulminante na literatura portuguesa. Agora verifica-se que foi só pólvora seca.
- E Maria do Rosário Pedreira?
- Atava os seus livritos e escondia-os dentro das barbas de Henrik Ibsen.
- Mas as barbas dele não são assim tão vastas.
- Isso não é importante. Reduz-se a obra ao tamanho da mediocridade.
- Onde colocaria os livros de Fernando Pinto do Amaral?
- Colocava-os juntos com o enxoval literário da Inês Pedrosa.
- E os dela?
- Enviava-os para reciclagem a um estilista moral para criar lingerie.
- E a pequena obra de Alexandre Andrade?
- Colocava-a na abertura do jornal de informação da tvi, com os apresentadores a cuspirem espinhas de estilo e bolas de totoloto.
- Onde colocaria a obra ensaística de Eduardo Prado Coelho?
- Talvez o melhor lugar fosse no cesto das cebolas.
- Para terminar, senhor Biva: qual é a sua opinião sobre o romance português?
- Muita palha para muitos burros.
- E a poesia?
- Muita água e tão pouca higiene.
- Só mais uma pergunta: onde colocaria os livros de João Pedro George?
- Na mesa-de-cabeceira da margarida Rebelo Pinto, dentro do penico.
- Isto vai trazer-lhe problemas, senhor Biva.
- Não tem importância.
- Agora sim, mesmo para terminar: onde colocaria a sua própria obra?
- No útero da minha mãe.
- Que importância tem isso?
- As pessoas gostam de saber.
- Há uma semana. Só saio para me reunir com o pessoal.
- Diga-me, senhor Biva: no contexto literário português onde colocaria a obra de Lobo Antunes?
- Colocava-a ao lado do Joyce, numa prateleira na despensa onde tenho um viveiro de traças.
- E onde colocava os livros de Miguel Sousa Tavares?
- Numa máquina trituradora e fazia croquetes.
- Sei que tem um apreço reservado pela obra da Margarida Rebelo Pinto. Onde colocaria os seus livros?
- Punha-os na cama quando a minha mulher está com o período.
- E os livros de Miguel Esteves Cardoso?
- Colocava-os dentro dum preservativo e ia às putas com eles.
- É do conhecimento público que testemunhou o início literário de José Riço Direitinho. Onde colocaria os seus livros?
- Besuntava-os com alho e pendurava-os por cima da porta para afastar os fantasmas da imaginação.
- E a imensa obra de Gonçalo M. Tavares?
- Colocava-a dentro de uma pia de água benta, juntava-lhe um quilo de farinha filosófica e uma colher de fermento psicológico (pode ser a colher de Samuel), depois fazia uma papa generosa e alimentava os pobres de espírito.
- Sei que não suporta o Jorge Reis-Sá, mas faço-lhe a mesma pergunta.
- Fazia uma encomenda dos seus livritos e enviava-os para uma instituição de apoio à imbecilidade (com despesas a suportar pelo próprio autor).
- E onde colocaria os livros dessa figura pública que dá pelo nome de José Rodrigues dos Santos?
- Entre as maminhas da Adília Lopes.
- Mas essa poetisa é muito considerada.
- É uma Florbela Espanca em versão hardcore.
- Também acompanhou o início de carreira literária de Possidónio Cachapa. Onde colocaria os seus livros?
- Numa fogueira em noite de S. João.
- Está a ser muito vago, senhor Biva.
- Ok. Quando esse autor apareceu cá no meio escreveram que ele tinha feito uma entrada fulminante na literatura portuguesa. Agora verifica-se que foi só pólvora seca.
- E Maria do Rosário Pedreira?
- Atava os seus livritos e escondia-os dentro das barbas de Henrik Ibsen.
- Mas as barbas dele não são assim tão vastas.
- Isso não é importante. Reduz-se a obra ao tamanho da mediocridade.
- Onde colocaria os livros de Fernando Pinto do Amaral?
- Colocava-os juntos com o enxoval literário da Inês Pedrosa.
- E os dela?
- Enviava-os para reciclagem a um estilista moral para criar lingerie.
- E a pequena obra de Alexandre Andrade?
- Colocava-a na abertura do jornal de informação da tvi, com os apresentadores a cuspirem espinhas de estilo e bolas de totoloto.
- Onde colocaria a obra ensaística de Eduardo Prado Coelho?
- Talvez o melhor lugar fosse no cesto das cebolas.
- Para terminar, senhor Biva: qual é a sua opinião sobre o romance português?
- Muita palha para muitos burros.
- E a poesia?
- Muita água e tão pouca higiene.
- Só mais uma pergunta: onde colocaria os livros de João Pedro George?
- Na mesa-de-cabeceira da margarida Rebelo Pinto, dentro do penico.
- Isto vai trazer-lhe problemas, senhor Biva.
- Não tem importância.
- Agora sim, mesmo para terminar: onde colocaria a sua própria obra?
- No útero da minha mãe.
Nota – este é um texto de ficção. Qualquer relação com a realidade até pode não ser coincidência. Muitos nomes ficaram de fora da análise do senhor Biva. Insisti com ele para que a lista fosse mais substancial. Ele recusou sempre e alegou cobardia.
in textos de BIVA
Publicado por Fernando Esteves Pinto AQUI