quinta-feira, setembro 21, 2006

Slavoj Zizek


Slavoj Zizek nasceu em 1949 em Liubliana, Juguslávia. É investigador do Instituto de Sociologia na Universidade de Liubliana, professor da New School for Social Research em Nova Iorque e fundador da Sociedade de Psicanálise Teórica de Liubliana, entre outras actividades.

É por muitos considerado o "filósofo do novo", polémico e revolucionário, propõe uma leitura crítica da actualidade social subjacente a uma reformulação do pensamento filosófico (Hegel, Kant, Heidegger, etc) a partir da revolução psicanalítica de Jacques Lacan e do materialismo dialéctico e histórico de Marx.

A sua última obra é "The Parallax View", considerado um dos trabalhos teóricos mais brilhantes da actualidade. A "paralaxe" pode ser definida como um deslocamento ilusório de um objecto provocado por uma mudança na posição de observação. Zizek propõe-se a abordar a actualidade a partir do que ele designou de "parallax gap" (um hiato, uma lacuna de paralaxe), ou seja, um buraco que separa dois pontos entre os quais não existe qualquer mediação possível, mas ligados por um impossível "curto-circuíto" de níveis que nunca se poderão encontrar (como é o caso da consciencia e do inconsciente).

Zizek tem dois livros traduzidos em português: "Bem-Vindo ao Deserto do Real" e o "Elogio da Intolerância", do qual fica uma citação bastante interessante para despertar curiosidades:

"Quando o sistema patriarcal é definitivamente minado, de tal maneira que o sujeito passa a viver-se como livre de todas as coerções tradicionais, desprovido de um Interdito simbólico interiorizado, determinado a fazer as suas próprias experiências e a perseguir o seu projecto de vida pessoal, etc., devemos pôr-nos então a questão capital dos «apegos apaixonados» denegados que subjazem à nova liberdade reflexiva do sujeito desprendido das imposições da Natureza e/ou da Tradição: a desintegração da autoridade simbólica pública («patriarcal») é paga (ou contrabalançada) por um «apego apaixonado» à sujeição, laço denegado que se torna por isso ainda mais forte, como parece indicá-lo, entre outros fenómenos, a multiplicação de casais lésbicos sadomasoquistas em que a relação entre as duas mulheres obedece à estrita, e muito codificada, configuração Senhor/Escravo - a que dá ordens é a «superior», a que obedece «inferior».
(...)
estamos perante o verdadeiro paradoxo da forma de coexistência livremente consentida Senhor/Escravo, que proporciona uma profunda satisfação libidinal, na medida em que, precisamente, liberta os sujeitos da pressão de uma liberdade excessiva e da falta de uma identidade determinada. A situação clássica é, deste modo, invertida: em lugar e em vez da subversão carnavalesca irónica da relação Senhor/Escravo predominante, estamos perante relações sociais entre indivíduos livres e iguais, em que o «apego apaixonado» a uma certa forma extrema de dominação e de submissão estritamente organizada se torna a origem secreta de uma satisfação libidinal, o suplemento obsceno da esfera pública feita de liberdade e de igualdade. Em resumo, a relação Senhor/Escravo estritamente codificada apresenta-se como a própria forma de «transgressão intrínseca» a sujeitos que vivem numa sociedade em que a totalidade das formas de vida é experimentada como uma questão de livre escolha de um modo de vida"