domingo, setembro 30, 2007
Ana Ferreira
Entrevista à escritora Ana Ferreira (Livro de Prosa Poética - Coisas de Nada)
Anteriormente publiquei contos e crónicas no Jornal de Notícias e em algumas revistas dispersas. Colaborei da mesma forma com a revista Saúdinha, editada em tempos pela Administração Regional de Saúde – Norte.
E particularmente feliz quando os leitores fazem a apreciação dos meus textos pelo lado que eu pretendi que apreendessem: uma escrita tornada simples de onde se libertem diversos níveis de leitura e expressão.
s.m. Como surgiu o título do seu livro “Coisas de Nada”?
É um exercício de paciência sintetizar a essência dos sujeitos em meia dúzia de traços fulcrais, a planta e o alçado de cada pessoa, dados através de curtas descrições de um momento exacto onde os sujeitos se desfazem da máscara de todos os dias.
Ao invés de longas descrições, gosto de procurar, como se de fotografia se tratasse, o close-up, o zoom daquele momento exacto em que o ser humano se revela (mesmo que não queira).
A.F. Nos últimos três anos tenho lido essencialmente autores relacionados com Psicologia, Psicoterapias, Teorias da Comunicação.
O meu primeiro autor de referência foi talvez Charles Dickens, que comecei a ler por volta dos 12 anos.
Via todas as casas lá do alto e podia escolher livremente onde descer para observar à vontade os interiores...
... olhando pelas janelas, observava como viviam as pessoas...”
s.m. Agradeço, em nome do Cultura, a sua disponibilidade e interesse pelo trabalho que este blogue tenta fazer a nível da divulgação artística e desejo-lhe muito sucesso.
quinta-feira, setembro 27, 2007
segunda-feira, setembro 24, 2007
Meditação Katatonia
Uma noite incrivelmente escura... Tão escura que a própria lua e estrelas desapareceram em busca de alguma luz.
Uma noite silenciosamente perturbadora…
Enquanto os meus olhos não se habituam á escuridão, fico nas trevas mais profundas.
Abro a tampa de uma das minhas caixas de meditação e retiro o disco mágico.
Uso a musica para moldar o silêncio que me incomoda.
O negro da noite mostra-se o cenário ideal para o som gótico que é cuspido das colunas. Uma espécie de luto externo que uso para uma introspecção interna.
Reparo no fumo do issenço a ganhar forma nos escassos pedaços de luz que atravessam a janela. Formas abstractas que forço a parecer algo.
Sento-me inquietantemente quieto enquanto esvazio a mente...
Por minutos, no meio da solidão e das trevas, sinto-me completamente em paz! Uma paz que me permite a lucidez necessária para sonhar com velhas memórias e memorizar novos sonhos.
O som começa a desaparecer e o silêncio ganha novamente forma.
Sinto o meu corpo voltar a si.
É altura de findar mais um dia.
Fecho os olhos e adormeço.
quinta-feira, setembro 20, 2007
Trouxe também muitas fotografias que representam o meu olhar sobre Cuba e especialmente sobre as Cores de Cuba. Aceitei agora o desafio de as partilhar e vou realizar uma exposição pública."
Exposição patente no café Kappuccino em Matosinhos, disponível todos os dias entre as 9:00 e as 23:00 até dia 12 de Outubro .
Enviado por: Nelson Silva
patente desde segunda-feira (dia 3 de Setembro) na Galeria Karnart, propõe, nas palavras do seu autor, Nuno Moreira, "uma reflexão sobre os ritos", convocando para tanto fotografias e objectos diversos.
Nuno Moreira tem 25 anos e é licenciado em audiovisuais e multimédia. Tem realizado trabalhos nas áreas performativas, design e fotografia.
Enviado por: Nuno Moreira
quarta-feira, setembro 19, 2007
OS DIAS DA CRIAÇÃO
Artes de Trás-Os-Montes e León
22 e 23 Setembro 2007
As cadências de leva que os placards atordoam, perturbando e largamente castrando desejos próprios, podem ser pelo menos interrompidas este fim-de-semana em Vilar, Boticas, Trás-os-Montes. Os iónicos milhões de lugares de onde a imaginação emigrou, esperam, não pela intervenção sobre, mas pela quântica.
Estar n' Os Dias da Criação, em matriz transmontano-leonesa, pode constituir um avanço científico se as múltiplas identidades arbóreas forem abraçadas sem fumos de utilidade. Poderíamos usar outras caracterizações, mas as árvores – as tais que nem pelo fogo perdem a raiz – parecem estabelecer um diaporama onde podemos colher a sagesse, pedindo emprestado aos carvalhos e seus druidas. " Tengo Algo de Árbol / Tenho Qualquer Coisa de Árvore" é o belo verso que Silvia Zayas escolheu para título de uma selecta de poetas leoneses que será apresentada n' Os Dias da Criação, em edição bilingue castelhano/português. Aí se ramificam poetas de León, desde António Gamoneda a Gaspar Moisés Gomez e Silvia Zayas, passando por mito-fornecedores como José Luís Puerto ou Juan Carlos Mestre e sócio-desiludidos como Tomás Sánchez Santiago.
Poderíamos dizer que a criação é a seiva? Este antigo lugar de denominação expedido quando o ar livre ainda não estava condicionado pelos triliões de sinais, ondas, satélites e outras poluições, talvez resgate a alquimia necessária à sobrelotação emocional da interioridade. Aí talvez resida a impossível habitação dos eremitérios – transmontanos e leoneses – desafiando o olho ogival dos echelons controleiros. As performances de Rosário Granell, Nuria Antom ou Isabel Fernandes Pinto sulcam ares e desares na paleta dos instantes irrepetíveis.
Que pulverizam as nuvens que aleitam os rios, línguas de comunicação, do minho ao douro, numa sequência de actividades humanas talvez conhecida como história. Desse fluido, em português sedimentado a partir do século doze, comunicarão o dramaturgo Abel Neves, o pensador e ensaísta Alexandre Teixeira Mendes, o poeta mirandês Amadeu Ferreira, o cantor do douro António Cabral, o escritor Bento da Cruz e o historiador Carlos Llamazares. Um passado interrogado para que algum futuro seja nomeável.
E em imagens fixo. A presença videográfica de autores como Angélica Liddell, Pedro Sena Nunes, Jesus Dominguez ou Sara Jess, garante o movimento da perenidade. A eles se juntam 14 jovens cineastas que no correr de 2007 cheiraram terra de barroso para depois a plasmarem em curtos documentais que serão exibidos na manhã de dia 23 e onde os actuantes não foram sujeitos a castings e outras necessidades comerciais.
Na tarde de sábado, pintura, fotografia, escultura, artesanato e outras artes visuais, estender-se-ão pela Eira Longa, em espelho ou desafio à pedra, ao verde e ao castanho, instalações relacionais em mistura de psique, pelas mãos de Deborah Nofret, Gerardo Queipo, Carla Mota, Adriana Henriques, o grupo Ravar, entre dezenas de outros autores que assim se publicam nas paredes do vento.
O espectáculo de Música, Performance e Teatro, dia 23, às 21h30, é o único momento que decorre fora de Vilar. Realizar-se-á no Auditório de Boticas que conhecerá, então, a voz do bardo Aurelino Costa, a interpretação vivida em canto por Alexandra Bernardo, o cabaret de Pepa Yañez, o trio musical de música antiga Sirma, entre os diversos criadores presentes.
Como perfume de uma América Latina poeticamente poderosa, estará a jovem poeta venezuelana Estrella Gomes que assim inaugura a presença latino-americana em Os Dias da Criação.
A organização
Inf:
http://incomunidade.blogspot
Tm: 965817337
Tm: 960238922
Fixo: +351.276415979
--
incomunidade
http://incomunidade.blogspot
Tm: (00351) 965817337
Enviado por: Alberto Augusto Miranda
sexta-feira, setembro 14, 2007
Given To The Rising
Bandas imprevisíveis, em constante mutação e evolução. Bandas que nos surpreendem em cada lançamento.
O primeiro contacto que tive com uma banda assim foi quando um álbum chamado ‘Through Silver In Blood’ entrou na minha aparelhagem.
Comprei o álbum em segunda mão porque fiquei bastante curioso depois de ler um artigo sobre uma banda chamada Neurosis.
Quando o ouvi detestei. A música simplesmente não fazia sentido.
Alguns anos depois tive a sorte de comprar um número da Metal Hammer que trazia um cd com várias bandas. Cheguei a casa e, enquanto devorava a revista, os primeiros acordes do ‘The Doorway’ invadiaram os meus ouvidos! Peguei na caixa e procurei o nome da banda que tinha escrito esta canção genial – NEUROSIS!
Nunca tinha ouvido um som assim! Completamente diferente. Um som… monstruoso. Verdadeiramente ‘pesado’!
A partir daquele dia a minha opinião sobre esta banda mudou radicalmente.
O álbum ‘Times Of Grace’ é um dos meus álbuns favoritos de sempre, e Neurosis uma das minhas bandas favoritas.
E como todos precisamos de ter ídolos, eles são os meus.
Ser impossível de descrever é uma qualidade, mas se os tivesse que definir diria visionários.
Hoje, quando ouço álbuns como ‘Through Silver In Blood’ a música faz, agora, todo o sentido.
E tudo o escrevi é confirmado no novo álbum ‘Given To The Rising’.
Conseguiram, como sempre, surpreender-me e criar mais uma experiência sonora (sim porque não podemos apenas ouvir Neurosis, temos que sentir e perceber).
Além da genialidade de sempre, conseguiram criar um ambiente negro em torno de todo o álbum. Um autêntico labirinto de emoções.
Quando chegou ao fim, experimentei um estranho sentimento de felicidade, não pela música ser alegre, mas por ainda haver bandas assim.
Mais uma vez afirmo: “Neurosis, obrigado por existirem!”.
Muito Bom!
quinta-feira, setembro 13, 2007
Morte em Viena
Depois de Luciano Pavarotti, mais uma baixa de peso no mundo da música.
Faleceu hoje, em Viena, o grande pianista de Jazz Joe Zawinul.
Ao lado de Miles Davis ajudou a criar o movimento hoje conhecido como Electric Jazz, tocando em discos controversos como “Bitches Brew” e “In A Silent Way”.
Posteriormente formou o grupo de Jazz-Rock Weather Report (onde tocou, entre outros, com o grande baixista Jaco Pastorius).
O seu talento foi sublinhado pela revista Down Beat que o escolheu por 28 vezes como pianista do ano!
terça-feira, setembro 11, 2007
A Arte Do Grito
Algum tempo depois deparei-me com uma mesa cheia de folhas amachucadas e percebi que não ia ser fácil transpor para o papel os sentimentos que se formam quando se fala neste estilo de musica.
Decidi então optar pela simplicidade. O meu objectivo não é convencer as pessoas a gostar, mas sim a compreender.
Quando se fala em Metal, as expressões “são só gritos” ou “ não sei como consegues ouvir isso” aparecem normalmente associadas.
Gritos... sim, são gritos. Mas gritos provenientes do coração, não da garganta. É uma forma de expressão, uma forma de arte (e como muitas outras por vezes incompreendida), mas uma forma de arte sincera.
Todos os dias ouvimos na radio vozes “lindas” de “cantores” que não conseguiam escrever uma canção se a sua vida dependesse disso. Não compõem, nem escrevem, apenas emprestam a sua voz. Isto é sinceridade?
Sinceridade é uma banda andar pelo mundo fora, a “gritar”, mas não pelo dinheiro e sim pela paixão.
Sinceridade é quando o coração bate aceleradamente enquanto esperamos que as horas passem para chegarmos a casa e ouvirmos um som novo.
Sinceridade são canções que, por minutos, nos fazem esquecer que existe um mundo lá fora, e o planeta é apenas um palco gigante condensado no nosso quarto. E depois do necessário egoísmo, partilhar com os amigos e envoltos em fumo de cigarros e refrescados por umas cervejas partilhar emoções e opiniões.
Grande parte do mistério por detrás da paixão que tenho pelo Metal provem desta sinceridade.
Resumindo, gostar de Metal é uma benção.
Mas o gostar é também um processo de aprendizagem, como uma paixão que vai crescendo com o tempo. Apenas temos que deixar a mente aberta para absorver e processar novas informações e sensações.
Ainda hoje, mais de 14 anos depois de começar a ouvir metal, necessito de ouvir um álbum várias vezes antes de formar uma opinião definitiva. O sentimento de gosto vai sendo moldado com certos pormenores que nos passaram despercebidos numa primeira audição.
Tudo conta, o ritual de pegar na caixa, observar a capa, colocar o cd na aparelhagem, dissecar cada segundo de cada musica, cada riff, cada solo, cada paragem... e sentir um arrepio na espinha e um sorriso nos lábios enquanto a musica invade os nossos ouvidos.
Gosto de chegar ao fim do dia e colocar um grande som e de gritar para me aliviar o stress. Ficar encharcado em suor depois de dar mais um concerto para um único espectador – o meu reflexo no espelho... e depois voltar á minha própria normalidade.
Afinal todos nós temos um pouco de génios e de loucos!!
terça-feira, setembro 04, 2007
Comissariada por Patricia-Laure Thivat (CNRS)
7 a 30 de Setembro
Teatro Garcia de Resende, Évora
7 de Setembro
Inauguração
18h
Teatro Garcia de Resende, Évora
22h
Recital Machine lyrique
Anabela Duarte canta Weil e Vian!
Exposição concebida por Patricia-Laure Thivat, investigadora do CNRS, especialista da emigração alemã nos Estados Unidos.
«Aquele que não viveu o exílio não compreende como ele tinge de cores fortes o nosso sofrimento, nem o quanto ele sobre nós lança de nocturno e venenoso». Quando Henrich Heine escreveu estas linhas, em 1840, antecipa a catástrofe que se iria abater sobre a intelligentsia alemã um século depois. Nos anos 30 e 40, mais de 4000 artistas de teatro alemão e austríaco abandonaram a Europa. Mil de entre esses refugiaram-se nos Estados Unidos. A sua história é-nos contada através desta exposição onde se reunem mais de 90 fotografias evocando Bertolt Brecht, Erwin Piscator, Max Reinhardt, Ernst Toller e tantos outros.
Sobre a exposição
Reúne fotos da colecção da autora, obtidas em arquivos durante as missões de investigação realizadas na Alemanha e nos Estados Unidos: um corpus de 95 fotos, com legendas e comentários que apresentam um olhar tão exaustivo quanto possível sobre o tema.
Primeira edição em Outubro de 2003, no Goethe Institut de Bordeaux, sob os auspícios da Mairie de Bordeaux e do Conseil Régional d’Aquitaine.
Segunda edição em Lyon, em Outubro-Novembro de 2004, no Goethe Institut de Lyon.
Terceira apresentação em 2006, em Dezembro de 2006, em Paris, na Maison Heinrich Heine (Cidade Universitária).
Catálogo
Thivat, Patricia-Laure, Culture et émigration. Le théâtre allemand en exil aux USA. 1933-1950, com prefácio de Michel Werner. Bordeaux, Art & Primo, 2003.
Programa Complementar
Conferência-apresentação, pela Prof. Doutora Patricia-Laure Thivat (CNRS)
Com o apoio do ARIAS (atelier de recherche sur l’intermédialité et les arts du spectacle)/ CNRS.
Fonte: Agenda Cultural de Évora
Évora
sábado, setembro 01, 2007
Entrevista a Paulo D.
Vinte e sete. Licenciado em Biologia Marinha pela Universidade de Swansea do Reino Unido. Mestrado em Ciências do Mar – Recursos Marinhos pelo Instituto de Ciências Biomédicas de Abel Salazar da Universidade do Porto. Neste momento trabalho como guia nas caves de Vinho do Porto Graham’s.
Comecei a escrever já há algum tempo. Não me lembro bem quando... creio que por volta dos dezasseis anos, um pouco como toda a gente, comecei com poemas pueris de adolescência que utilizava depois como letras de canções, mas escrever a sério... bem eu ainda acho que não escrevo a sério (risos). Digamos que eu não me levo muito a sério, o que não quer dizer que o que faço não o faça com a maior seriedade.
s.m. Além do livro que apresentamos hoje aqui no Cultura já publicou e/ ou publica, actualmente, noutros suportes?
Não, que me lembre não.
s.m. Actualmente a Internet é uma importante ferramenta na divulgação de todo o tipo de arte. O que pensa deste mundo? Noto que não aderiu ao mundo dos blogues. Alguma razão em particular?
Concordo consigo, penso que a Internet abriu imensas portas para muita gente seja em que área for. Não só na Arte, mas também no mundo empresarial e social. Nomeadamente em termos de emprego, criação de empresas ou no caso social com os sites de “chat” ou de encontros que se estão a tornar bastante significativos na criação de novos casais. Digamos que a Internet tornou mais acessível e também possível a expressão individual de cada um de uma forma que há algum tempo era apenas permitida a uma minoria quase de elite. Evidentemente que em tudo isso existe o reverso da medalha, por vezes com desenvolvimentos nefastos como todos conhecemos casos ou já ouvimos falar. Mas voltando concretamente à Arte... Julgo, como disse, que a Internet se tornou importantíssima para não dizer indispensável para a divulgação de uma obra, no entanto não creio que deva ser o único meio. Pois também na relação “divulgação da obra” – Internet existe o reverso da medalha, sobretudo no que diz respeito a autores pouco conhecidos ou mesmo estreantes. Existe o perigo da obra passar despercebida. A Internet é um universo tão vasto que quase infinito e onde se pode encontrar do melhor ao pior, há o risco para um autor que só confie nesse meio de a obra se perder nessa imensidão de informação e não ter o devido reconhecimento. A Internet é vastíssima e é preciso um certo grau de sorte para que alguém encontre a página de um autor desconhecido e fique absorto pela sua obra. A maioria das pessoas vai à Internet à procura de informações sobre assuntos que já conhece e quer aprofundar ou sobre temas que “ouviu falar”. E no caso da Arte existe uma grande diferença entre ver ou ouvir uma obra ao vivo e pelo computador. Se bem que no caso da música seja um pouco mais fácil e aceitável. Mas no caso da literatura existe uma grande diferença entre ler no monitor e segurar uma folha de papel. Eu pessoalmente prefiro o papel...
Não existe nenhuma razão especial pela qual não tenha aderido ao mundo dos blogues. Tempo..., paciência..., preguiça..., um pouco dos três, talvez. Não sei... Acho que não tenho jeito para blogues. Para o estilo de escrita quotidiana que parece tipificar a maioria deles. Confesso também que não sou grande leitor de blogues, mas o vosso é deveras interessante (risos). Tenho alguns amigos que têm blogues nos quais escrevi algumas coisas em género de comentário, eles dizem que gostam, que deveria escrever um, mas as suas posições são dúbias e eu continuo a achar que não tenho grande jeito para a coisa.
s.m. Com certeza já terá recebido boas críticas em relação ao seu trabalho literário. Como se sente perante as palavras dos seus leitores e críticos?
Sim, evidentemente que já recebi boas críticas em relação ao meu trabalho literário, mas foram sempre de pessoas conhecidas ou amigos. O que na minha óptica, como referi na resposta anterior, as torna... um pouco dúbias (risos). É claro que é sempre agradável ouvir elogios e também críticas construtivas, mas não se devem levar demasiado a sério. Creio que se deve aprender com toda a informação que se recebe. Filtrá-la e utilizá-la para na próxima vez fazer melhor e por inerência nos tornarmos também nós, enquanto pessoas, melhores.
s.m. Qual foi a sensação de ver o seu primeiro livro publicado? Trouxe mudanças na sua vida?
Foi extremamente esquisito. Lembro-me de não ter tido nenhuma consciencialização especial do momento ou qualquer sensação plena de realização. Recordo-me apenas de pensar e desejar que fosse o primeiro de vários.
A publicação do livro não trouxe grandes mudanças na minha vida, mas fiquei claramente com a sensação que mudou a forma como quem já me conhecia olhava para mim. Como se por geração espontânea, de um dia para o outro tivesse nascido um misto de surpresa, espanto, orgulho e... ouso dizê-lo admiração. Foi estranho no impacto inicial lidar com isso.
s.m. Conte-nos que tal é a experiência dentro da barriga do monstro livreiro do nosso país.
Olhe, não faço ideia. Sinceramente. Não me interessei muito por saber como é que o livro se deu nas várias livrarias onde esteve. Pode parecer um pouco estranho, mas tenho consciência que é muito difícil alguém pegar num livro de um autor que não conhece de lado nenhum e comprá-lo. Contra mim falo...
s.m. Como surgiu o título do seu livro - “Esboço de Vida num Reencontro Inesperado”?
O título surgiu... já não me lembro bem como foi. Acho que é uma interacção ou justaposição da história em si e do momento de vida em que me encontrava. É para mim impossível desligar um do outro. Criar algo a partir do nada (se é que isso nos é possível, a nós ser humano) conseguir criar sem colocar nada das nossas experiências pessoais.
s.m. Fale-nos um pouco dele, por favor.
Para responder a esta sua pergunta, um pouco no seguimento da anterior. Creio que a história em si, entre outras coisas, conta um reencontro. Um reencontro consigo próprio. Ao qual, julgo eu, podemos estar todos sujeitos a qualquer instante. Como se o livro estivesse dividido em pequenas “micro-histórias” que juntas fazem todo o enredo. Temos o romance entre as duas personagens principais. A ligeira crítica social na trama do local de trabalho através das personagens secundárias e o reencontro já mencionado. Mas... será preciso ler o livro para verificar se concordam ou não comigo.
s.m. Porquê o pseudónimo Paulo D.?
Timidez. Insegurança. As razões habituais, mas não só. Era algo que em certa altura da minha vida fazia muito sentido. Hoje não sei se ainda fará... O tempo e os sentimentos são algo que, em mim, não fazem muito sentido juntos. E depois eu gosto da criação de personagens. E o Paulo D. é para mim uma personagem. Uma das muitas personagens que existem dentro de mim. Para tudo o que já criei, usei nomes diferentes, em suma criei personagens. É verdade que nalgumas coisas que criei se encontra o meu nome, Miguel Lopo, mas nunca em destaque. Sempre em letras pequeninas. A criação de personagens dá-me mais liberdade, permite explorar lados que não saberia existir sem elas. Ao mesmo tempo obriga-me a pensar de um modo diferente do meu, diferente daquele que habitualmente faço.
s.m. Uma vez que já tem experiência posso perguntar: considera mais complexo - escrever poesia ou prosa?
Para mim a poesia é mais difícil. Os grandes poetas têm o dom de conseguir dizer muito com pouco. Isso por si só já é um feito. Consegui-lo de forma bela é... no mínimo admirável. Interessei-me há tempos por alguns poetas ingleses. Do domínio da poesia épica, pré-romântica e romântica como Milton, Blake que descobri ainda muito novo graças a um filme de ambiente extraordinário chamado Dead Man de Jim Jarmusch, e Shelley. As suas obras são de uma riqueza, uma complexidade, uma harmonia que é impossível não ficar estonteado pela sua inteligência. Paradise Lost (Paraíso Perdido) de Milton e de uma beleza e inteligência absurda. A obra de uma vida. Nunca seria capaz de escrever algo minimamente comparável. Sinceramente a poesia que tentei escrever, para além de letras de canções, é muito fraca. Não sei bem como a caracterizar em termos de estilo. É mesmo algo sobre o qual não sei o que dizer... (risos). Gosto bastante mais de prosa. Creio que tem mais a ver comigo. É-me mais fácil absorver e instantâneo escrever. Gosto de longas e pormenorizadas descrições na história e essas são um pouco impraticáveis em poesia.
s.m. Teve formação académica em Escrita Criativa? O que pensa desta disciplina?
Não tive qualquer formação académica em Escrita Criativa. Como não conheço a disciplina não vou opinar, mas o nome parece-me apelativo.
s.m. Em termos literários, acredita no termo "Inspiração", no termo "Transpiração" ou na sua simbiose?
Acredito evidentemente na sua simbiose, se bem que não saiba bem definir o que é inspiração. Do mesmo modo que é difícil descortinar o que é transpiração. As duas estão demasiado interligadas para as podermos separar. Onde acaba uma e começa a outra? A inspiração talvez seja, aparentemente, mas difícil de definir porque não é palpável, não se sente. Alguém que está inspirado não o nota no momento, não pensa sequer no assunto, concentra-se apenas no trabalho, em completar a sua visão e aí já entramos no domínio da transpiração. Claro que existem pessoas com mais talento que outras, se quiser, que têm “inspiração” mais vezes que as outras, mas não acredito que se consiga algo sem muito trabalho e... transpiração. Ouso dizer que esse tipo de termos: “Inspiração” e “Transpiração” foram inventados por críticos e apreciadores da obra de Arte, de modo a explicar a capacidade do autor que se distingue em conseguir algo que a maioria das pessoas não consegue.
O ser humano tem por hábito racionalizar tudo o que o rodeia, mas nem sempre é possível.
s.m. Sente necessidade de organizar o seu tempo para escrever?
Para ser sincero sinto, mas não o consigo lá muito bem. Neste momento o meu dia está bastante preenchido e deixa-me pouco tempo para a escrita. Para escrever preciso de estar mesmo dentro da história, de entrar num mundo diferente do “normal” em que me encontro. É preciso uma certa adaptação que por vezes demora horas. Não me considero alguém de “pluma fácil”. A minha actividade profissional neste momento é bastante exigente em termos de horário e nesta altura do ano também em disponibilidade, por isso para grande pena minha, o tempo para escrever é pouco.
s.m. Como caracteriza o seu processo de escrita?
Desorganizado e bastante anárquico. Depois lá vou compondo tudo e sai bastante ordenado e julgo eu, coerente.
s.m. O seu livro foi editado pela Corpos Editora. Como foi o processo?
Foi bastante simples. Enviei o meu manuscrito para a Corpos, como já o tinha feito para outras editoras. Eles foram os primeiros a responder e a proposta interessou-me. Para além que me agradava a ideia de lançar o livro através de uma pequena editora, pouco conhecida.
s.m. O que pensa das edições de autor?
Penso que são uma muito boa alternativa para todo o autor que não tenha conseguido despertar o interesse de nenhuma editora e que queira um marco físico da sua obra para a poder difundir para outras pessoas, nem que sejam só amigos e conhecidos. Pode-me dizer que existe a Internet para isso, mas como já disse anteriormente prefiro o papel
s.m. Qual é a sua opinião em relação ao mundo editorial?
Não tenho grande opinião, é um mundo que conheço muito mal, por isso prefiro não opinar. Só julgo é que talvez deveriam ser mais organizados. Eu ainda estou a receber respostas de editoras a quem enviei o meu manuscrito há mais de um ano. E pelo que me disseram o prazo de resposta médio para um manuscrito enviado é de um ano a ano e meio. Parece-me demasiado tempo. É verdade que também desconheço as dificuldades com que se deparam e o número de manuscritos que recebem, digamos por mês, mas mesmo assim... Parece-me muito. Contudo, friso uma vez mais que desconheço a sua realidade para emitir juízos de valor.
s.m. Acha que o público, em geral, é mais sensível à poesia ou ao romance? E qual será a razão?
Diria o romance. Mais fácil de ler na minha opinião. Mais fácil a sua assimilação. O ser humano é por natureza preguiçoso (e contra mim falo) e ler grande poesia dá trabalho. A sua compreensão não é imediata, é preciso analisá-la e digeri-la. Eu próprio acho que ainda não sei ler poesia. Talvez o adquira com a idade... espero eu.
s.m. Já se aventurou no mundo dos concursos literários?
Não por acaso nunca... Espere, sim uma vez. Enviei o meu manuscrito para um concurso da FNAC. Telefonou-me uma senhora a dizer que não o podiam considerar porque tinha chegado um dia depois do prazo. Compreendo, que podia eu dizer, são regras.
s.m. Que autores lê frequentemente?
Não costumo ler autores, mas sim obras. Não tenho por norma ler tudo de um autor só porque gostei de um dos seu livros, julgo já o ter feito, mas agora prefiro abranger o maior número possível de autores diferentes e portanto opiniões, pontos de vista e estilos diferentes. Tenho também a sorte de falar e compreender praticamente tão bem como o português mais duas outras línguas (francês e inglês) o que me permite ler na sua versão original um número assinalável de obras. O que, por muito respeito que tenha às traduções, é sempre mais interessante.
s.m. Qual foi, até hoje, o(s) livro(s) e/ ou autor(es) que mais o marcaram? Porquê?
Vários: Eça, Pessoa, Virgílio Ferreira, Saramago, Chateaubriand, Camus, Proust, Céline, Borges, Eco, Kafka, Kundera, Joyce, Orwell, Burton...
Entre muitos outros. Porque é que me marcaram? Porque me alargaram os horizontes.
s.m. Qual é, na sua opinião, o/a artista português(a) – das mais variadas vertentes artísticas - que merece, da sua parte, maior admiração pelo trabalho desenvolvido para a divulgação da Cultura Portuguesa?
Pergunta difícil... Sinceramente não sei. Se falarmos em termo mediáticos há evidentemente José Saramago por ter recebido o Nobel e claro pela qualidade da obra. Em termos de música temos os Madredeus que são, julgo eu, o nosso maior sucesso musical além fronteiras. Mas sinceramente não sei. Não quero dar opinião porque posso ser injusto e não me estar a lembrar de alguém.
s.m. Qual é a sua opinião em relação à forma como a Arte é vista no nosso país? E considera que o povo português demonstra um grande interesse pelas diversas formas artísticas nacionais e internacionais?
Creio que a Arte, infelizmente ainda é vista com alguma desconfiança. Muita gente a considera uma perda de tempo porque não é algo que à primeira vista seja de rentabilidade imediata. Quantos pais saltarão de alegria ao ouvirem que os seus filhos querem ser pintores, escultores, músicos, bailarinos em vez de médicos, advogados ou engenheiros? Uma minoria de certeza. Existe uma pressão da sociedade em que vivemos para o sucesso e lucro imediato – produtividade imediata, seja lá o que isso for. E a Arte é sabido, não dá dinheiro. O problema é que existem domínios do ser humano que são necessários à sua existência e nem sempre podem ser vistos de um ponto de vista económico. Penso que a Arte é um deles e a saúde também. A saúde das pessoas não pode ser um negócio.
É uma mudança de mentalidades que tem de ser fomentada e incentivada de cima para baixo. De quem tem poder de decisão ou ambiciona tê-lo para quem não tem.
s.m. O que nos reserva para um futuro próximo, em termos de criação literária?
Tenho várias coisas pendentes. Espero poder acabá-las brevemente.
s.m. Que conselho daria a quem sonha melhorar o seu processo de escrita e, por fim, publicar?
Praticar, acreditar e arriscar.
Agradeço, em nome do Cultura, a sua disponibilidade e interesse pelo trabalho que este blogue tenta fazer a nível da divulgação artística e desejo-lhe muito sucesso e inspiração.
Festival CALE no Fundão
Festival Cale
De 1 a 8 de Setembro no Fundão
Programa:
Exposições
1 a 8 de Setembro
15.00h-22.00h
Rua da Cale
“Percursos”-Rita Garcia
Artes Plásticas
“Rua da Cale – Uma breve história”- Marta Amaro
Instalação Sonora
“kohl;Temptation;See what I see… - Caroline Borges
Joalharia
Espectáculos
01 de Setembro
“Sem titulo até hoje” - João Bento / Ana Trincão
Dança
21.45h
Auditório da Moagem
Sem titulo até hoje” é um trabalho de carácter performativo que cruza a linguagem da dança com a música e as artes plásticas. A peça apresenta-se como um espaço em transformação constante onde os intérpretes / músicos, manobram, transformando o espaço cénico e sonoro. O som vive no corpo e do corpo, a música vive dos objectos e os objectos são insígnias de um espaço que potencia ligações.
02 de Setembro
Concerto de Piano- Ana José Carrolo
Música Clássica
21.45h
Auditório da Moagem
03 de Setembro
TOR-Pedro Lindeza – Bouzouki, Marco Fonseca – Violino, Bruno Fonseca – Flautas, Bodhrau, Sara – Contrabaixo
Música Irlandesa
21.30h
Praça Velha
04 de Setembro
Palácio Crew
Hip Hop
21.30h
Praça Velha
05 de Setembro
Trio Marrucho- Miguel Moreira -guitarra, Pedro Barreiros -contrabaixo e José Marrucho -Bateria.
Jazz
21.30h
Praça Velha
6 a 8 de Setembro
Incrível Tasca Móvel -espaço social e cultural, uma plataforma viajante para espectáculos e convívio.
21.00h
Centro Cívico
Dj set´s
01 de Setembro
Dj Gabi
00.00h-04.00h
Lounge Moagem
08 de Setembro
Dj João Marrucho
00.00h-04.00h
Lounge Moagem
Actividades Paralelas
1 a 8 de Setembro
“Estado da Translocalidade”*
Alexandra Ferreira e Bettina Wind
“Introduções “ – Visitas Guiadas (2 e 3 de Setembro)
16.00h às 18h
Rua da Cale
A geografia da região e a própria estrutura da população podem ser comparadas a outras regiões europeias. O alvo do projecto é “encontrar traços do Fundão fora do Fundão”, mostrar ligações translocais que já existem entre a região e outros locais da Europa.
25 de Agosto a 8 de Setembro
Reaktor – Residência Artística – Hungria
Um grupo de jovens artistas húngaros vem ocupar a Antiga Praça, transformando-a num espaço de criação, onde as novas tendências artísticas se vão envolver com a história do local.
Câmara Municipal do Fundão
Teatro da Guarda apresenta:
SETEMBRO • SEX 7 • 21h30 • Grande Auditório
FANFARE CIOCARLIA [ROMÉNIA]
Música • 10€ • 90m • M/4
A Fanfare Ciocarlia é uma orquestra de metais constituída por onze elementos, originária da pequena aldeia de Zece Prajini, na Roménia. Trata-se de uma espectacular fanfarra cigana de tradição balcânica. É uma das bandas mais requisitadas para actuar em todo o mundo em festivais de world music, e já foi objecto de um documentário do cineasta alemão Ralf Marscalleck que mostra o paradoxo entre a vida na aldeia e o alarido de um espectáculo em Tóquio ou em Londres. A Fanfare Ciocarlia orgulha-se de ser “a mais rápida do mundo”, interpretando solos de clarinete, saxofone e trompete que chegam a ter mais de 200 batidas por minuto.
Costicã Trifan trompete, voz • Paul Marian Bulgaru trompete • Radulescu Lazar trompete, voz • Oprica Ivancea clarinete soprano, saxofone soprano • Dan Ionel Ivancea saxofone alto • Constantin Cantea tuba • Monel Trifan tuba • Constantin Calin corneta tenor, voz, danças • Laurentiu Ivancea corneta baritono • Costel Ursu bombo • Nicolae Ionita percussão
http://www.tmg.com.pt/