quarta-feira, agosto 22, 2007

A Instalação da Cultura Holandesa no Brasil


No caso holandês, o domínio do Conde João Maurício de Nassau-Siegen (1) sobre o Recife ocorreu por volta do século XVII. Portugal, até 1640, estava sendo governado pelo rei Felipe II de Espanha, este tendo decretado o fechamento dos portos ibéricos aos holandeses. Os flamengos, desta forma, optaram pela exploração da Capitania de Pernambuco, na época, pólo de riquezas oriundas, principalmente, dos engenhos de açúcar. A tomada das colónias nordestinas brasileiras pelos neerlandeses/holandeses começou a partir de 1624, porém a época de principal domínio ficou a cargo da chegada de Maurício de Nassau ao Recife em 23 de janeiro de 1637. Nassau consolidou o domínio na Capitania de Pernambuco e o expandiu para o litoral das Capitanias do Ceará, Sergipe e Maranhão. Sua presença na invasão flamenga, foi resultado da aceitação ao convite da Companhia Holandesa das Índias Ocidentais (2), que era um exemplo alternativo de empresa de mercadores para administrar os recentes domínios conquistados no Brasil, em troca de ajuda financeira e títulos militares e de nobreza. Podemos pensar nos termos de hoje, que se tratava de uma empresa privada com o objectivo de organizar e explorar o comércio exterior (ao contrário de Portugal, onde prevaleceu a intervenção e dependência forte do Estado), da qual Nassau tornou-se funcionário.

Até o fim do seu governo, em 1644, o príncipe Maurício de Nassau contribuiu determinantemente para a instalação e desenvolvimento cultural, com o objectivo visionário de transformar Recife numa capital moderna, a qual chamaria Mauritsstadt. Como exemplo, podemos citar que Nassau introduziu métodos aperfeiçoados de cultivo de cana-de-açúcar e de fumo (Agricultura); drenou terrenos, construiu canais, diques, pontes, palácios (Arquitectura e Urbanização); construiu jardins, museus e um observatório astronómico (Ciência). Além disso, Nassau, de formação erudita e humanística, fomentou comitivas de artistas, cientistas e intelectuais em geral, donde se encontraram nomes como os do artista plástico e botânico Albert Eckhout (1610-1665), do pintor Frans Post (4), do geógrafo e cartógrafo Georg Markgraf, do médico Willem Piso e do escritor Gaspar Barleus (5).
João Araújo é aluno do curso de Mestrado em
Criações Literárias Contemporâneas pela Universidade de Évora, Portugal.
Página na internet: http://www.jpoeta.blogspot.com/

1) Nasceu em Dillenburg, perto de Frankfurt e Siegen, na actual Alemanha, em 17 de junho de 1604 e faleceu em 20 de dezembro de 1679 nos arredores de Kleve.
2) A criação desta empresa, W.I.C, foi a resposta de empresários e do governo holandês à política hostil da Espanha.
3) Durante a estada dos holandeses, diversas lutas foram travadas contra os portugueses, os espanhóis e os nativos. Os neerlandeses/holandeses viriam ser completamente expulsos por volta de 1654. Uma das famosas batalhas registadas é a Batalha dos Guararapes, ocorrida no Morro dos Guararapes, ao sul da cidade do Recife.
4) Frans Jansz Post (1612-1680) foi um dos primeiros a registar cenas e paisagens da vida brasileira.
5) Gaspar Barleus foi autor de um estudo científico da fauna e da flora do Brasil, além de observações meteorológicas e astronómicas, intitulado Historia Naturalis Brasiliae, Amsterdã. [1648].