sábado, junho 24, 2006

Eduardo Kac

Alba

Photo: Chrystelle Fontaine


Eduardo Kac nascido em 1962 no Rio de Janeiro é um artista reconhecido pelas suas obras em bio-arte ou arte transgénica.
Utiliza a biotecnologia e a genetica para criar trabalhos provocadores de modo a dar a conhecer a tecnologias involvidas nas suas obras, tecer criticas a estas e gerar discussão publica sobre a manipulação genetica.

A sua obra mais conhecida talvez seja o "GFP Bunny" em que Kac em colaboração com um laboratorio Frances concebeu um coelho albino em que tinha sido implantado uma proteina verde flourescente retirada de um tipo de medusa, sendo que quando este era iluminado com uma luz ultravioleta o coelho ganha um brilho verde.

Alba como Kac e a sua familia chamaram ao coelho iria viver durante algum tempo com Eduardo numa galeria sendo que após esse periodo iria para a sua casa para la viver definitivamente, mas tal não foi possivel porque o laboratorio que o produziu decidiu que este iria ficar no ambiente de laboratorio e não seria entregue a Kac tal como acordado.
O coelho morreu no laboratorio pouco depois deste o ter criado por razões desconhecidas, o que gerou discussão sobre a idade que o coelho teria e se Kac não teria simplesmente comprado um coelho já existente no laboratorio, visto que há muito tempo que existem seres com a mesma proteina implantada em laboratorios em todo o mundo.

Além desta obra Kac tem varias outras, como um ecosistema artificial populado por amoebas, ratos e plantas todos implantados com a mesma proteina, tambem faz parte desta obra um robot cujas acções são condicionadas pelas mudanças na colonia de amoebas que funciona como um cerebro para este.

Para mais informaçoes visitar:
www.ekac.org

terça-feira, junho 20, 2006

O deserto do real

Hoje a abstracção já não é a do mapa, do espelho ou do conceito. A simulação já não é a simulação de um território, de um ser referencial, de uma substância. É a geração pelos modelos de um real sem origem nem realidade: hiper-real. O território já não precede o mapa, nem lhe sobrevive. É agora o mapa que precede o território – precessão dos simulacros – é ele que engendra o território cujos fragmentos apodrecem lentamente sobre a extensão do mapa. É o real, e não o mapa, cujos vestígios subsistem aqui e ali, nos desertos que já não são os do Império, mas o nosso. O deserto do próprio real.

Jean Baudrillard, Simulacros e Simulação

O capital é irresponsável, irreversível, inelutável como o valor. Por si só é capaz de oferecer um espectáculo fantástico da sua decomposição – só paira ainda sobre o deserto das estruturas clássicas do capital o fantasmas do valor, como o fantasma da religião paira sobre um mundo desde há muito dessacralizado, como o fantasma do saber paira sobre a universidade. Cabe-nos a nós voltarmos a ser os nómadas deste deserto, mas desligados da ilusão maquinal do valor. Viveremos neste mundo, que tem para nós toda a inquietante estranheza do deserto e do simulacro, com toda a veracidade dos fantasmas vivos, dos animais errantes e simuladores que o capital, que a morte do capital fez de nós – pois o deserto das cidades é igual ao deserto das areias, a selva dos signos é igual à das florestas, a vertigem dos simulacros é igual à da natureza – só subsiste a sedução vertiginosa de um sistema agonizante, onde o trabalho enterra o trabalho, onde o valor enterra o valor – deixando um espaço virgem, assombrado, sem trilhos, contínuo como o queria Bataille, onde só o vento levanta a areia, onde só o vento vela pela areia.

Jean Baudrillard, Simulacros e Simulação


Se me recordo correctamente, o filme abre com o código verde caindo em várias linhas rectas, como uma chuva de símbolos.
Há aquele momento em que Trinity salta e a câmara roda, mostrando que ela fica no ar um momento a mais do que seria possível, suspensa como pelo poder que nos sonhos nos faz voar e é aí que a audiência sente que algo está profundamente errado com aquele mundo possível do filme, que as regras ali são semelhantes, mas se podem dobrar.
Corta para a imagem de um homem, jovem, dormindo com a cabeça sobre a secretária. Passa música suave e vemos que o computador faz uma pesquisa sobre Morpheus. Neo acorda e de novo uma mensagem, o absurdo, o surreal tecido leve sobre o peso e sono da realidade, onde os ambientes, escuros ou diurnos são sempre pesados.
Alguém bate à porta, Neo abre, fala, vai à estante, olha por momentos um livro que abre, retirando de lá algo.

Volta um pouco atrás. À capa do livro. Pausa. Simulacra and Simulation, em letras douradas sobre uma capa de couro verde.
É desse livro de Jean Baudrillard que vos cito. É este livro que vos convido a descobrir ( Jean Baudrillard, Simulacros e Simulação, Relógio d’Água, 1991).

Recordo-me quando tinha 14 ou 15 anos e ia de comboio ou autocarro pelo Porto; sentia um estranhamento, como se o que via, o movimento, o tecido espesso que escorria pela janela do autocarro - prédios, carros, multidões a pé -fossem algo de surreal. Já alguma vez o sentiram? O peso e a estranheza dos comportamentos, o facto estranhíssimo de ver aquelas criaturas equilibrando-se em duas patas e andando, andando num equilíbrio frágil.

A frase “ Welcome to the desert of the real” dita em Matrix ( 1999) é então quase uma citação directa de Simulacros e Simulações de Jean Baudrillard ( “O deserto do próprio real”) que, por sua vez, enquanto expõe a sua tese, alude a um conto de Borges.
Borges utiliza nesse mesmo conto o símbolo do deserto, recorrente na literatura ocidental e explorado com profundidade ao longo da Idade Média; o seu tratamento em textos religiosos dessa época explora as importâncias que ao símbolo são dadas tanto no Antigo como no Novo Testamento.
As redes de intertextualidade atravessam os séculos. Os livros, canónicos e influentes em tempos e de formas diferentes, são pontos centrais na rede flutuante de discurso que tece a Cultura Ocidental.

De volta à citação inicial “ Welcome to the desert of the real”, e com estes dados, as questões surgem. Porquê o deserto. O que é o Real. Porquê o deserto do real...
A um nível superficial de análise, o do enredo, este monólogo de Morpheus entrega-nos uma mensagem simples: devido a um conflito com a Inteligência Artificial, com a Máquina, o real foi estilhaçado, tornado estéril, destruído... Para aprofundarmos a interpretação da leitura, basta ler o monólogo no argumento do filme que nos leva a uma palavra-chave: wasteland, termo central na cosmovisão do século vinte, de que The Waste Land de T.S. Eliot é talvez a expressão maior; e essa palavra-chave abre-nos o imaginário moderno e pós-moderno a um facto simples: o Real morreu.

E não há dúvida que desert é símbolo. Lê-se no Dicionário dos Símbolos de Chevallier e Gheerbrant:

O deserto comporta dois sentidos simbólicos essenciais: é a indiferenciação inicial, ou a extensão superficial estéril, sob a qual deve ser procurada a Realidade. (...)
A ambivalência do símbolo é claríssima, a partir da simples imagem da solidão: sem Deus, é a esterilidade; com Deus, é a fecundidade, mas devido a Deus. O deserto revela a supremacia da graça: na ordem espiritual nada existe sem ela; tudo existe por ela e só por ela.
( Chevalier; Gheerbrant, Dicionário dos Símbolos, Teorema, pp. 259- 260)
A Realidade, mencionada na citação, interpreto como um sinónimo de Verdade desvelada (alétheia)... "Realidade" é nos então apresentado como um sinónimo de Verdade descoberta, o deserto é espaço de silêncio, de solidão, de vazio, antítese da Cidade. E a Verdade para os crentes é sinónimo de Deus.
Mas é na expressão “ sem Deus” que o significado profundo de deserto se desvela: a ausência de Deus é um deserto eterno. Alguém o terá sabido tão bem como os filhos do meio do século XX, escritores como Camus e Vergílio Ferreira?

Mas abordamos apenas o “deserto”, e o real?
Convido-vos a aprofundarem a etimologia de “real” e compará-la com o equivalente em Grego clássico, ler através dessa arqueologia linguística os seus significados filosóficos e retirar as consequências; podem acabar com uma ferramente poderosa nas mãos.

E convido-vos a ler Jean Baudrillard. E que me dissessem se pensam , como eu, que estes são dos mais estranhos tempos, em que habitamos os dois lados do espelho, simultaneamente, e que vivemos sobre o signo de Caim.

segunda-feira, junho 19, 2006

Lullaby – Canção de Embalar (Partilha Literária)




“Imaginem uma praga que se apanha através dos ouvidos.
Paus e pedras vão quebrar-vos os ossos, mas agora as palavras também vos conseguem matar.
A nova morte, esta praga, pode vir de qualquer lado. Uma canção. Um anúncio suspenso no céu. Um boletim noticioso. Um sermão. Um músico na rua. Pode apanhar-se a morte de um tipo das televendas. Um professor. Um ficheiro na internet. Um cartão de parabéns. Um bolinho da sorte. [...].
Imaginem o pânico. [...].
Imaginem as pessoas a entoar canções, a cantar hinos, para abafar todo e qualquer som que pudesse trazer a morte. Com as mãos bem coladas nos ouvidos, imaginem as pessoas a rejeitar toda e qualquer canção ou discurso em que a morte pudesse ser codificada, da maneira como os maníacos envenenam um frasco de aspirina. Qualquer palavra nova. Qualquer coisa que eles não compreendem já será suspeita, perigosa. Evitada. Uma quarentena contra a comunicação.”


in “Lullaby – Canção de Embalar” de Chuck Palahniuk [Editorial Notícias]

Chuck Palahniuk.
Talvez para a maioria de vós este nome não vos diga nada, mas se vos disser que o seu primeiro livro publicado foi adaptado brilhantemente em cinema, com o título de Fight Club, todos saberão do que falo...
Não nego que foi por causa do filme que cheguei até ao escritor Chuck Palahniuk, como a maioria dos seus leitores espalhados pelo planeta, mas digo-vos que foi uma descoberta fantástica. É quase impossível, alguém ficar indiferente à escrita controversa, subversiva, revolucionária, moderna e viciante, deste escritor norte-americano.
No livro “Lullaby – Canção de Embalar” Carl Streator, um repórter jornalístico, viúvo e na casa dos quarenta anos, durante a redacção de uma série de artigos sobre o Síndroma de Morte Súbita Infantil, descobre uma estranha coincidência: a presença de uma antologia “Poemas e Rimas à volta do Mundo”, nos locais onde ocorreram essas mortes. Mais ainda: constata que o livro se encontra sempre aberto na página onde está escrito um cantico tradicional africano – uma canção de embalar. Canção esta que se torna numa arma mortífera quando invocada em direcção de quem quer que seja. É assim que Carl Streator se transforma num serial killer (in)voluntário, e empreende a missão de eliminar todas as cópias do livro, com a ajuda de umas estranhas personagens...

quarta-feira, junho 14, 2006

Instituto das Artes - Uma curiosidade (Actividade Artística aquando do EURO 2004)

ARTE EM CAMPO
"O futebol é um dos temas mais paradoxais do mundo contemporâneo. Ele convoca o belo e o horrível simultaneamente. É uma fábrica de ilusões e uma empresa de depressões. Ninguém lhe fica indiferente. A paixão pelo futebol é uma doença bipolar. É maníaco-depressiva. Maníaca ao domingo, depressiva à segunda, quando o clube perdeu. O futebol celebra a vida, mas fá-lo a partir da organização da guerra. Ele desenvolve o sistema da guerra dois lados em contacto feroz, transforma-o num jogo que encerra os rituais da própria guerra e, muitas vezes, termina numa verdadeira guerra . Numa guerra de palavras ou mesmo física.O futebol é também um espectáculo, o mais importante espectáculo dos nossos dias. Absolutamente local, com todas as rivalidades de bairro, e absolutamente global. É um fenómeno planetário. Os seus protagonistas são mais famosos que as pop stars. São as verdadeiras pop stars."


Isto diz-nos o Instituto das Artes que criou "O Arte em Campo". Esta iniciativa nasceu de uma convocatória a artistas, comissários, programadores e instituições para reflectirem e produzirem obra(s) em torno do futebol.

Foi criado aquando do EURO 2004... e agora que estamos perante a loucura do Mundial talvez seja interessante ir lá espreitar! Afinal... o Futebol também "inspirou e inspira" o criador artístico! Apesar de já não podermos ver algumas das criações podemos encontrar a informação em: http://www.iartes.pt/arte_em_campo/estrutura.htm

Por curiosidade ou não... podem ver:
Laura vai ao Futebol
Game Design
Pré-Históric'Ball
Fora de jogo
A angústia do guarda-redes...
Intervenção para a compreensão...
Pontapé de Saída
Jogos Simultâneos
EuroTeatro 2004
Por dentro da bola
Fora de Campo
Off.Site
Art Cup
Em jogo
Lugares Comuns
Nostra Fides
Ópio
Sem título
Vento
Partida
Fintar

terça-feira, junho 13, 2006

Rui Zink disse:
"A polémica em torno dos cursos de escrita criativa está viciada à partida. Só um insensato diria que estes "cursos" formavam escritores. É evidente que não: uma voz e uma visão do mundo pessoais só o próprio as pode encontrar. O que a "escrita criativa" pode é ajudar uma pessoa a fazer o seu percurso, confrontando-a com obstáculos vários, obrigando-a a puxar pela cabeça e... pela caneta."
Fernando Esteves Pinto respondeu:
"Se não consegues ser escritor, ou não te sentes suficientemente escritor, então tira um curso de escrita criativa. Disparate! Um verdadeiro escritor sente-se pela inquietação e tormento que raramente consegue ocultar. O que há é pessoas que falam demais, e falam tanto sem parar que as palavras deles saltam da boca para as folhas dos livros. Já repararam que só as pessoas felizes é que querem ser escritores? Os outros, os tristes, já o eram desde o berço."
E concordo, plenamente. Tanto, que não resisti a colocar aqui as suas palavras. :D

Podem encontrar mais opiniões em: http://milmaisuma.leiturascom.net/arquivo/018358.php

segunda-feira, junho 12, 2006

Gonçalo M. Tavares

A convite da Comissão de Curso do Mestrado em Criações Literárias Contemporâneas, o escritor Gonçalo M. Tavares deslocar-se-á à Universidade de Évora, no dia 16 de Junho, para proferir uma conferência a ter lugar no Anfiteatro I do Colégio Luís António Verney, pelas 17h. Será decerto um privilégio para toda a comunidade académica poder dialogar com o autor de um livro tão premiado como Jerusalém, onde um certo estudioso procura "entender o horror da História, e com isso os homens." Este será um pensamento que decerto deverá interessar a quem investiga numa Universidade, não se devendo, por isso, ignorar o alcance da escrita deste jovem autor, que partilhará connosco algumas reflexões ligadas à sua experiência criativa.
(Texto da Directora do Mestrado, Professora Doutora Maria Antónia Lima)
Breve Biografia:
Gonçalo M. Tavares nasceu em 1970. Foi Bolseiro do Ministério da Cultura, IPLB com uma bolsa de Criação Literária para o ano 2000, na área de poesia.
Em Dezembro de 2001 publicou a sua primeira obra: Livro da Dança, na Assírio e Alvim.
Recebeu o Prémio Branquinho da Fonseca da Fundação Calouste Gulbenkian e do jornal Expresso com a obra O Senhor Valéry (publicado na Editorial Caminho
em 2002) e o Prémio Revelação de Poesia da Associação Portuguesa de Escritores, com Investigações. Novalis (Difel).
Publicou O homem ou é tonto ou é mulher e A colher de Samuel Beckett e outros textos, ambos na Campo das Letras e adaptados para teatro.
Está representado em antologias de poesia publicadas na Holanda («Hotel Parnassus, Poetry International 2002») e na Bélgica («Het laatste anker», «O último
refúgio, 300 poemas de todo o mundo sobre a morte», Lannoo/Atlas), e editado em revistas inglesas e americanas.
Traduzido para italiano com um conto inserido na antologia «Racconti senza dogana», «Jovens escritores para a nova Europa» (Gremese Editore).
No grupo OuLIPO (França) foi realizada, em 2003, uma leitura de algumas histórias de O Senhor Valéry (com tradução e leitura de Jacques Roubaud).
Ainda em 2003 publicou O Senhor Henri (Caminho).
O Senhor Valéry foi traduzido para francês, com um prefácio de Jacques Roubaud, e editado em Setembro de 2003 na «Joie de Lire».
O ano de 2004 assistiu ao crescimento do «Bairro» com o lançamento de O Senhor Brecht e O Senhor Juarroz.
Publicou os romances: Um homem: Klaus Klump, em 2003 e A máquina de Joseph Walser (2004) na Caminho.

Em 2005 publica, também na Editorial Caminho, a obra vencedora de dois prémios, Jerusalém.

Vencedor, em 2004, do Prémio LER/Millenium BCP.
Vencedor, em 2005, do Prémio Literário José Saramago.


«Com a nova literatura estamos por assim dizer num mundo da morte entre parênteses. Talvez nenhum autor comunique melhor esse sentimento que o autor de Jerusalém, Gonçalo M. Tavares. Chegou para ficar, num espaço só seu.» (Eduardo Lourenço)

segunda-feira, junho 05, 2006

Ashram

Hoje, após uma longa ausencia, venho aqui falar-vos de Ashram uma banda italiana que tocou presentemente em Portugal, pela terceira vez, desta vez acompanhados pela banda espanhola Trobar de Morte, sendo que tive o prazer de assistir ao concerto realizado na Casa das Artes de Famalicão, encerrando o Ciclo Medusa que nos trouxe alguns actos de bandas de musica Darkwave, Ethereal e Neoclassica.

Vinda de Napoles é composta por Luigi Rubino no piano, Alfredo Notarloberti tocando o violino e Sergio Panarella na voz e por vezes na guitarra.Em conjunto estes três talentosos e inovadores musicos envolvem-nos na suas melodias e letras emotivas e por vezes mesmo melancolicas, criando belas musicas do estilo Neoclassico com ocasionais incursões pelo Folk.

Esta banda com aproximadamente nove anos de existencia, desde do seu inicio com Luigi e Sergio, tem dois albuns sendo que o ultimo entitulado "Shining Silver Skies" foi lançado pela editora portuguesa Equilibrium Music.

Uma excelente banda para os adeptos do neoclassicismo e sonoridades melancolicas :)

Sites:
http://www.ashramusic.com
http://www.equilibriummusic.com/
http://www.casadasartes.blogspot.com/

O Gato Malhado e a Andorinha Sinhá (Partilha Literária)



“Desejo dizer que há gente que não acredita em amor à primeira vista. Outros ao contrário, além de acreditar afirmam que este é o único amor verdadeiro. Uns e outros têm razão. É que o amor está no coração das criaturas, adormecido, e um dia qualquer ele desperta, com a chegada da Primavera ou mesmo no rigor do Inverno. [...].
De repente, o amor desperta de seu sono à inesperada visão de um outro ser. Mesmo se já o conhecemos, é como se o víssemos pela primeira vez e por isso se diz que foi amor à primeira vista. Assim o amor do Gato Malhado pela Andorinha Sinhá.”


in “O Gato Malhado e a Andorinha Sinhá – uma história de amor” de Jorge Amado [Publicações Dom Quixote]


Este é mais um dos livros que li durante a minha adolescência e tive o prazer de o reler há pouco tempo... É um dos livros que me despertou o gosto pela escrita de Jorge Amado.
O livro “O Gato Malhado e a Andorinha Sinhá – uma história de amor” conta a história de um gato malhado solitário, muito mau e egoísta, que passava os dias a fazer maldades aos outros animais da floresta. Até que um dia conhece uma andorinha que, ao contrário dos restantes animais, não tem medo dele. O tempo foi passando, e o gato malhado descobre que está apaixonado pela andorinha e é correspondido.
Será que o amor entre um gato e uma andorinha, apesar de todas as diferenças entre eles, consegue sobreviver? ... Agora vais ter que ler esta história para o saberes...

sexta-feira, junho 02, 2006

Fórum sobre Tradução e Língua Portuguesa

Olá a todos.
Venho convidar-vos a participar num fórum sobre tradução e língua portuguesa, onde se pretende discutir temas relacionados com os mesmos, bem como partilhar conhecimentos e esclarecer dúvidas.
Visitem e registem-se. Quantos mais, melhor! :-)

A INCONGRUÊNCIA DOS HUMANOS

O exercício da política em cargo público traz o dirigente ao encontro de uma frustração pessoal. Com muita competência, vigilância, humildade e transpiração este fato é minimizado, mas não eliminado. Pode-se até alcançar bons resultados, mas sempre serão muito aquém do que se desejava inicialmente. Tenho, disto, a vivência pessoal e o acompanhamento de muitos casos. O que pensa o estreante idealista na prática administrativa governamental é muito diferente do que ele realiza ao assumir o poder. As decepções dos que acreditaram naqueles novos líderes, se repetem a cada mandato. Sempre há a esperança que um dia aprenderemos a votar. Não é o caso. Não é que as intenções não sejam as dos programas de governo. O motivo é outro. Claro que existem os políticos com “p” minúsculo que querem se aproveitar do cargo. Não estou falando destes, não merecem o trabalho de escrever sobre eles. Estou enfocando os bem intencionados, os que queriam e acreditavam que realizariam grandes feitos. O desapontamento do dirigente vem da incapacidade de transformar seus desejos em realidade. A dificuldade maior não é o peso da responsabilidade, a visão do todo, a burocracia administrativa, a falta de recursos em todos os setores, financeiros, humanos, materiais, temporais, é principalmente a incapacidade de vencer a si mesmo, de manter a coerência entre os desejos e as ações, de estreitar a distancia entre as mãos e o coração. Este pensamento fui buscar em Chico Buarque , filósofo do cotidiano, quando diz : “Sabe, no fundo eu sou um sentimental. Todos nós herdamos no sangue lusitano uma boa dose de lirismo...(além da sífilis, é claro). Mesmo quando as minhas mãos estão ocupadas em torturar, esganar, trucidar, meu coração fecha os olhos e sinceramente chora. Meu coração tem um sereno jeito e as minhas mãos o golpe duro e presto, de tal maneira que, depois de feito, desencontrado, eu mesmo me contesto. Se trago as mãos distante do meu peito, é que há distância entre intenção e gesto e se meu coração nas mãos estreito, me assombra a súbita impressão de incesto. Quando me encontro no calor da luta, ostento a aguada empunhadora proa, mas o meu peito se desabotoa e se a sentença se anuncia bruta, mais que depressa a mão cega executa, pois que senão o coração perdoa.”
A frase angular: há distância entre a intenção e o gesto. É inerente ao ser humano esta distância. Para comprovar que esta incongruência não é coisa de hoje, nem só dos fracos, nem só dos impróprios, nem só dos políticos, cito São Paulo na sua carta aos Romanos: “...estou ciente que o bem não habita em mim, isto é na minha carne. Pois eu tenho capacidade de querer o bem , mas não de realizá-lo. Com efeito, não faço o bem que quero, mas faço o mal que não quero. Ora, se faço aquilo que não quero, então já não sou eu que estou agindo, mas o pecado que habita em mim. Portanto, descubro em mim esta lei: quando quero fazer o bem , é o mal que se me apresenta. Como homem interior, ponho toda a minha satisfação na lei de Deus, mas sinto em meus membros outra lei, que luta contra a lei da minha razão e me aprisiona na lei do pecado, essa lei que está em meus membros. Infeliz que eu sou. Quem me libertará deste corpo de morte?” A frase síntese: Pois eu tenho a capacidade de querer o bem , mas não de realizá-lo. Até São Paulo, homem santo e obstinado, sentiu esta dificuldade. Como vemos, não é fácil transformar desejos em resultados. Não é o administrador público que pela exceção confirma a regra. Reafirmo que a maior batalha do ser humano é com ele mesmo, o grande erro é o homem querer ganhar do mundo quando ainda está perdendo para si mesmo.
Pedro Dueire
Engenheiro e empresário.