quarta-feira, novembro 09, 2005

dos subúrbios da existência

Saúdo todos os que contribuem para este blog, e todos que o lêem.
Não estou inteiramente convencido se o tom do site se adequa completamente ao texto que se segue, mas espero que sirva; senão serve como " food for thoutght".


Estamos rodeados de sinais, um mundo de comunicação enovelada, sufocante, uma asfixia pelo excesso de mensagens circulares, frias, luz eléctrica, circuito em fluxo.
Com a força de quem foge de algo, de um silêncio espesso, seguimos os sinais de néon como os insectos da noite em volta de uma luz artificial. A babel de sentidos brilha na noite da morte e diz uma coisa : desejo.
É ela que afastamos: a morte, a velhice, a fealdade... Os modelos dizem precisamente isso se virmos exactamente o que eles não são. Mas a morte respira-nos sob o pescoço, acoça-nos como lobos.
Mesmo na geometria e arquitectura das novas cidades-subúrbio – com os shoppings no centro e a sua força centrípeta- nos fluxos furiosos dos meios de comunicação- estradas, Net, telefones, Tv... Estas fortalezas de néon fecham-se sobre si ligadas umas às outras... mas a noite que tentam fechar respira dentro de nós e apodrece-nos em silêncio.

Noite é sinónimo de festa no dicionário da pós-modernidade. De álcool, corpos e música. De transgressão. Noite é o inverso do dia de trabalho. Nela encena-se , procura-se o excesso e o escape. Mas esta é uma noite eléctrica, falsa-dionisíaca. Não há o silêncio nem o perigo, os demónios são cães de trela, as portas que se abrem são disneylandias. E assim, a manhã que lhe segue, é apenas a ilusão da ciclicidade do tempo e um regresso ao mundo ordenado da rotina e do trabalho. Dia esse simulacro da Luz, dia-a-dia, a alma do Real actual: o sócio-económico em trânsito.
O dia diz : vem produzir, assim como a noite diz: vem libertar a tensão.
E como a gravidade do Real nos puxa com uma força invisível imensa, vamos.


Seria necessário reinventar a arquitectura e as horas dos dias. Seria necessário rasgar as estradas e casas destas hinterlands como papel e no silêncio do deserto dar o primeiro passo que dissesse vem viver e morrer. Aprender o corpo, desmistificando, rompendo a força implacável dos modelos, aprendendo de novo os ciclos naturais, aprendendo os limites do ser e a certeza da morte.