quarta-feira, julho 25, 2007

Entrevista a Inês Leitão

Breve Biografia

Inês Leitão tem 26 anos, está a terminar o curso de Estudos Anglo-Americanos na Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa, trabalha, actualmente, numa instituição bancária e publicou, recentemente, o seu livro "Quarto Escuro".

Livro publicado pela LivrodoDia Editores (2007)

Blogue da Autora

Entrevista

sandra martins - Olá Inês. Em primeiro lugar quero dar-lhe os parabéns pelo blogue e pela publicação do seu livro “QuartoEscuro”. É um prazer imenso poder contar consigo aqui neste nosso cantinho. Esperamos que com estas questões os nossos leitores a possam vir a conhecer melhor e, quem sabe, para quem ainda não a leu, despertar o interesse para o seu trabalho literário.

s.m. Quando começou a escrever?

Escrevi num diário durante muitos anos…experimentei o jornal da escola que frequentei no 7º ano, ia escrevendo coisas para os amigos…sempre foi mais fácil para mim usar cartas, texto, para dizer às pessoas que gostava delas…essa era a minha primeira grande necessidade na escrita.

s.m. Actualmente a Internet é uma importante ferramenta na divulgação de todo o tipo de arte. O que pensa deste mundo? A criação do seu blogue com o título apelativo “bocadosdecarnepelasparedesdoquarto” foi anterior ou posterior ao desejo e publicação do seu livro?

O blogue foi a forma que encontrei de escrever. Ele começou a crescer a sério há dois anos, quando voltei de Moçambique. E fez sentido que crescesse porque houve evolução. A Internet é, e continuará a ser, uma poderosa ferramenta de divulgação: dá visibilidade a autores jovens e aumenta a procura e o interesse.

O blogue foi muito anterior ao livro. Sinceramente quando o Bocados foi criado, não havia a ideia do livro.


s.m. Como se sente perante as críticas dos seus leitores e críticos?

É muito fácil recebermos críticas quando não há nada em jogo. Tive muita sorte, tive o apoio e o incentivo de professores e colegas na faculdade, tive a sorte de lançar o livro no Correntes d´Escrita 2007. Existiram reacções profundamente particulares, estranhas até, de leitores que se aproximaram de mim pelo livro…porque de alguma forma o livro mexeu com eles.

s.m. Qual foi a sensação de ver o seu primeiro livro publicado? Trouxe mudanças na sua vida?

Eu tenho um livro publicado. Através do livro ganhei amigos-leitores. Essa foi a grande mudança.

s.m. Conte-nos que tal é a experiência dentro da barriga do monstro livreiro do nosso país.

Profundamente angustiante (lol)


s.m. Como surgiu o título do seu livro “QuartoEscuro”?

Foi difícil pensar num título para este livro. O Luís Cristóvão, o meu editor, ajudou-me a pensar. Decidimos “Quarto Escuro” porque fazia sentido. O livro em si, é de facto, um quarto muito escuro.


s.m. Fale-nos um pouco do seu livro, por favor.

É um livro particular, que fala de afectos, que faz pensar e que faz sentir. Um leitor disse-me que o fazia sentir frágil. Eu fiquei a pensar nisso muito tempo… Fazer alguém sentir, é uma coisa muito séria.

Quando falamos do “Quarto escuro”, estamos a falar de um livro pequeno, de leitura asfixiante, composto por micro narrativas.


s.m. Inês, considera mais complexo - escrever poesia ou prosa?

Eu sinto que o meu caminho é a prosa. Acho que ambos são caminhos muito pouco fáceis.


s.m. Teve formação académica em Escrita Criativa? O que pensa desta disciplina?

Não, não tive. Mas considero que seria interessante fazer um curso desse género…é bom conhecer e partilhar. E esses cursos têm habitualmente espaço para o conhecimento e para a partilha.


s.m. Em termos literários, acredita no termo "Inspiração", no termo "Transpiração" ou na sua simbiose?

Acredito profundamente na inspiração. Há coisas que se passam à minha volta que me fazem escrever. Sem elas, o bloqueio era profundo e não saberia dizer nada de novo.

E já sei distinguir perfeitamente um momento de inspiração: sei o que tenho a fazer quando o sinto.

s.m. Sente necessidade de organizar o seu tempo para escrever?

Sinceramente não tenho tempo para escrever. O bocadosdecarne ajuda-me a sentir que tenho de arranjar tempo, dê por onde der.


s.m. Como caracteriza o seu processo de escrita?

Como lhe disse. Nasce sempre por inspiração. E a minha inspiração surge das coisas mais estranhas que possa enfrentar ou reconhecer na rua, em casa, com as pessoas que me rodeiam. Vem sempre de algo ou de alguém. E depois a história toma rumo próprio na minha cabeça, as personagens crescem e o enredo nasce.

s.m. O seu livro foi editado pela LivrodoDia Editores. Como foi o processo?

Eu já conhecia o Luís Cristóvão da faculdade, ele era, e penso que ainda é, um leitor do blogue. Um dia ele disse-me que queria editar-me e eu gostei da ideia. (lol). Convidou-me a reunir alguns textos e a apresentar-lhos. Foi o que fiz, e em Fevereiro de 2007 o livro nasceu.

s.m. O que pensa das edições de autor?

Eu penso, e continuarei a pensar, que é fundamental o nome de uma editora.

s.m. Qual é a sua opinião em relação ao mundo editorial?

Poucos autores marginais publicados…devíamos ser mais. Deveríamos ser uma aposta constante.

s.m. Acha que o público, em geral, é mais sensível à poesia ou ao romance? E qual será a razão?

Penso que será mais sensível ao Romance…mas também vejo muita gente que precisa de poesia para respirar.

s.m. Já se aventurou no mundo dos concursos literários?

Sim. Concorri a um concurso de peças de teatro. E com muita pena não ganhei (lol)

Tenho 3 peças por editar: “Quem tramou António Lobo Antunes”, “A última história de Werther” e “Amor em estado Morto”. Trata-se de uma trilogia.

s.m. Que autores lê frequentemente?

António Lobo Antunes, Gonçalo M. Tavares, Henry Miller (um escritor que me é muito querido).

Sinto que me estou a apaixonar muito devagarinho por Lídia Jorge e por Ruben A.

s.m. Qual foi, até hoje, o(s) livro(s) e/ ou autor(es) que mais a marcaram? Porquê?

Muitos. Acho que o livro que mais me marcou foi o “Retrato de Dorian Gray” de Oscar Wilde; Milan Kundera “A insustentável leveza do ser” é também uma referência.

Sou viciada em Lobo Antunes desde os 19.

s.m. Qual é, na sua opinião, o/a artista português(a) – das mais variadas vertentes artísticas - que merece, da sua parte, maior admiração pelo trabalho desenvolvido para a divulgação da Cultura Portuguesa?

Eu acho que existem tantos…é injusto dar só um nome….

Mas Paula Rêgo, talvez. Escolho-a porque ela é o grande rosto da pintura portuguesa no estrangeiro, e é uma autora que transforma o grotesco, como eu nunca imaginei ser possível. Acho que ver uma pintura de Paula Rêgo, é ver cultura Portuguesa moderna no seu melhor.

s.m. Qual é a sua opinião em relação à forma como a Arte é vista no nosso país? E considera que o povo português demonstra um grande interesse pelas diversas formas artísticas nacionais e internacionais?

Acho que o sistema esquece a educação para a cultura. Aprende-se a gostar e a aprende-se a compreender. No ensino pré-escolar e primário não existe qualquer preocupação em explicar arte e mostrar arte às crianças. Indivíduos que não são expostos a movimentações culturais em criança, não o serão certamente em adultos. E isso é uma falhar gravíssima no nosso sistema. Espero que mude.

A nossa grande arma é a educação.

s.m. O que nos reserva para um futuro próximo, em termos de criação literária?

Gostava de publicar um conto infantil. Escrevi um conto quando vim de Moçambique, sobre a experiência que tive numa missão com crianças e adultos infectados com Sida na casa das Irmãs Hospitaleiras do Sagrado Coração de Jesus. Foram possivelmente os meses mais completos e mais felizes que vivi. As ilustrações do conto estão quase prontas.

s.m. Que conselho daria a quem sonha melhorar o seu processo de escrita e, por fim, publicar?

Escrever muito, sempre, até se atingir um estilo único e uma forma própria.

É disso que se precisa.

s.m. Agradeço-lhe, Inês, em nome do Cultura, a disponibilidade e interesse pelo trabalho que este blogue tenta fazer a nível da divulgação artística e desejo-lhe muito sucesso.