Na sequência do Renascimento e do Humanismo, a partir dos séculos XIV, XV e XVI, a valorização do homem e da razão passam pelo chamado Século das Luzes (século XVIII), denominação esta provinda da crença dos filósofos da época, na possibilidade de esclarecimento das mentes das pessoas através das ideias. Como disse Fátima Nunes (1), na centúria de setecentos Ciência, Cultura, Filosofia Natural faziam parte de um ideário de cosmopolitismo cultural decorrente de um novo olhar antropológico sobre a Natureza. Entre os vários nomes envolvidos nos acontecimentos ocorridos nos países europeus como Inglaterra, França e Alemanha, além da independência americana, destaquemos aqui, a figura do futuro primeiro-ministro português, o Marquês de Pombal, que entre 1738 e 1745, havia sido embaixador em Londres. Decerto, Pombal bebeu da ideologia que fervilhava na Inglaterra e fez esforços para implantá-la em Portugal, aquando do seu retorno, transparecendo uma figura de personalidade energética, racional e iluminada, mais tarde tendo seu nome associado à Ciência e à Técnica. Verifica-se na cronologia do Marquês de Pombal, que os ideais o rondaram desde cedo, como por exemplo nas reuniões da Academia dos Ilustrados com discussões científico-filosóficas na casa do seu tio (2). Sua intervenção para a reconstrução de Lisboa devido ao terramoto de 1755 foi determinante. Pombal desenvolveu reformas da educação e Coimbra tornou-se referência no ensino universitário com os saberes organizados por categoria, a criação dos gabinetes, laboratórios e espaços de aprendizados diversos.
Sejam de particulares ou de grupos ou agremiações, de um modo geral, a criação de locais para se aglomerar os saberes se intensificou. Esses chamados gabinetes científicos continham uma variedade de informações museológicas, artísticas, escritos, objectos e curiosidades, como que numa necessidade de representação e de apreensão do universo num local privilegiado. Por outro lado, além dessas concretizações, digamos estáticas, a filosofia do iluminismo experimentaria suas concepções através de um sentimento dinâmico e explorador nas viagens ao Novo Mundo. Dentro dessa nossa explanação com um viés voltado para a parte cultural técnico-científica, com a fundação de um manancial de Museus Públicos e Privados, Academias, Jardins Botânicos, Conferências e Reuniões, sob o comando de um naipe de intelectuais portugueses estrangeirados, a evolução das artes andava paralela, ou vinha no rastro do caminho desbravado pelas Luzes.
Parece-nos coerente afirmar que no século XIX (3), as teorias e ideias das Luzes do XVIII culminariam em suas aplicações práticas com maior ênfase. O espaço dos gabinetes científicos foi substituído pelos laboratórios onde o profissional da ciência manipula, experimenta, ensaia... (4). A difusão dos conhecimentos, o que alimentaria a opinião pública, intensificou-se através da imprensa periódica científica, cultural, especializada ou popular, dos comícios científicos, dos relatos às expedições, ocorrendo a níveis nacionais e internacionais. Porém, aos poucos essa grande massa pública foi se afastando cada vez mais da restrita e singular comunidade científica, encontrando-se entre ambos os grupos, os mitos científicos das personagens realizadoras e das realizações entre máquinas a vapor, locomotivas, invenções gerais, etc. Assim, entre uma série de acontecimentos político-sociais, a cultura dinamicamente recebia a influência externa e, dentro do seu locus, fervilhava qual um organismo vivo incitando e influenciando os artistas a produzirem, através das realizações de outros.
1) NUNES, Fátima. [2002]. Opinião Pública, Ciência e Tecnologia – Portugal XVIII-XX, in Revista de História e Teoria das Ideias, Vol. XV (2ª Série), Universidade Nova de Lisboa, Lisboa, p. 212.
2) O Marquês de Pombal teria aproximadamente 18 anos de idade. Um dos ilustres nestas reuniões era o 4º Conde da Ericeira, futuro director da Real Academia da História. (Fonte: http://www.instituto-camoes.pt/revista/revista15s.htm, 20 de abril de 2006).
3) O século XIX pode ser denominado o século largo, sendo considerado o seu início em 1789 com a Revolução Francesa e o seu término em 1914 com a Primeira Guerra Mundial (El hombre del siglo XIX. Versión española de: José Luís Gil Aristu. Madrid: Alianza Editorial, p. 11).NUNES, Fátima. [2002]. Opinião Pública, Ciência e Tecnologia – Portugal XVIII-XX, in Revista de História e Teoria das Ideias, Vol. XV (2ª Série), Universidade Nova de Lisboa, Lisboa, p. 215.