segunda-feira, setembro 18, 2006

A Casa Quieta (Partilha Literária)



“Sou assim, como depois há-de constatar, sou muito de dar atenção a pormenores, porque às vezes um detalhe esconde o segredo que procurávamos, às vezes um detalhe pode salvar-nos a vida. E não digo isto apenas num sentido teórico mas num sentido literal. Ou seja, não se trata só de uma metáfora.
Agora fico na dúvida se metáfora se aplica aqui
Não, esqueça a metáfora, palavra desadequada, não quero que comece logo a pensar que sou um iletrado, estou apenas nervoso, desconfortável. Mas continuando, atenção ao pormenor do pormenor, passe o pleonasmo. E vai outra
Pleonasmo não é bem isto
seria dizer qualquer coisa como descer para baixo, bem sei, tome isto como outra atrapalhação, quero causar boa impressão e acontece-me não raras as vezes o contrário, hoje é da circunstância de o conhecer, de saber o que me traz aqui, de ver barquinhos no Tejo e não recordar a última vez que os vi assim. Aqui, neste pormenor, poderá ver que me comovo com pouco, verá que é uma das minhas fraquezas
Fraquezas sim fraquezas
porque não há nada de poético em passarmos a vida de lágrimas nos olhos, a soluçar diante de qualquer cena de um filme, a arrepiar-me quando oiço certa música. É um peso demasiado grande para carregar, garanto-lhe
É um sofrimento”

in
“A Casa Quieta” de Rodrigo Guedes de Carvalho [Publicações D. Quixote]

Nesta partilha literária, irei falar-vos de um dos livros do jornalista da SIC, Rodrigo Guedes de Carvalho. Escolhi-o, não por ter sido um êxito de vendas, mas porque o romance, para além de muito bem escrito, descreve de uma forma fiel a reacção humana perante a morte, a solidão, a loucura, o amor, a traição...
No livro “A Casa Quieta”, Rodrigo Guedes de Carvalho conta o percurso de vida de um casal, Mariana e Salvador, e como a relação de ambos se vai modificando ao longo do tempo, influenciada, ora por factores internos, inerentes à sua condição humano, ora por factores externos, como os familiares...