segunda-feira, maio 14, 2007

As palavras do poeta João Filipe Ferreira


Hoje vamos conhecer um pouco mais João Filipe Ferreira, 26 anos, autor do livro Estados d'Alma.

O livro dele já foi tema de um post aqui no Cultura e, uma vez que ele teve a amabilidade de me enviar um exemplar, [que li atentamente e, ainda assim, lhe troquei o título... (desculpa)] deixo-vos aqui, em jeito de entrevista - pouco crítica - algumas perguntas que lhe fiz e às quais ele respondeu com grande sentimento e limpidez de espírito.

1. O "Estados d' Alma" é o teu primeiro livro?
Sim, com muito incentivo e com muita amizade lá consegui passar textos soltos num livro físico.


2. Tens mais projectos na gaveta à espera de serem libertados para o mundo editorial? Prosa? Poesia de novo?
Ter até tenho…tenho o oposto de Estados d’Alma. No início tinha a ideia de colocar tudo num só livro. Depois repartir os textos por dois..um que falasse de Estados d’Alma mais tristes e outro com Estados d’alma de esperança e alegres. Quanto a editar…muito dificilmente, mas nunca se sabe…quem sabe um dia.

3. O que consideras mais complicado? Escrever poesia ou prosa? Porquê?

Penso que ambos os géneros. Escrever não deve ser algo programado, não deve ser algo planeado…deve somente ser algo no momento, algo verdadeiro e algo natural. O que é artificial por norma esconde e tira beleza ao natural e na escrita é a mesma coisa.

4. Qual a sensação de ver um livro com o teu nome, publicado?

É muito bom…reconfortante pelo menos. É um “mimo” para o espírito.Ter um livro publicado significa um marco na nossa vida. Mesmo que seja o maior fracasso, mesmo que seja esquecido numa prateleira continuará sempre a ser um conjunto de desabafos que o autor em certa fase da sua vida resolveu marcar. Mesmo após a morte quem quiser saber algo sobre quem foi o autor..poderá faze-lo consultando o livro.

5. Em termos literários, acreditas na inspiração?

Não acredito muito na inspiração…acredito que o resultado de algo resulta da força, coragem e do momento. Em termos literários defendo que a inspiração exista apenas na criação de uma ideia, mas o seu desenvolvimento não será (na minha opinião) visto como um acto de inspiração, mas sim um conjunto de emoções do autor com momentos que ele já conhece ou que já viveu. Se for uma história com um personagem, esse será algo que o autor viu misturado com o que já viveu.


6. Qual é a tua profissão?

Dedico-me à contabilidade…mas quando for grande gostava de ser tudo menos sonhador.


7. Quanto tempo dedicas à escrita ou é um processo totalmente livre?

É um processo totalmente livre…o que escrevi até hoje, foi algo momentâneo e que surgiu com a maior normalidade. Não gosto de “escrita a metro”, de coisas complicadas e que não demonstram o que se queria de facto dizer.

8. Como caracterizarias o teu processo de escrita?

A minha escrita é somente algo que qualquer pessoa pode e consegue escrever. São textos simples, naturais e que todos no final podem compreender o que realmente escrevi.


9. O teu livro é uma edição de autor, correcto? Como foi o processo? Foi moroso?

O meu livro foi editado por uma editora jovem e que procura o seu espaço no meio literário português. Uma editora que lança trabalhos de jovens e anónimos autores portugueses, muitos deles com imenso valor mas que infelizmente sem capacidade para verem o seu trabalho reconhecido.

10. Li, com atenção, o teu livro e deparei-me com uma escrita bastante preocupada a nível estrutural. Alguma razão em particular?

Por acaso é coisa com que não me preocupo. A minha escrita é realizada da forma mais simples possível, algo natural…ou seja, como sai no momento. Não me preocupo em colocar palavras “caras”, em complicar o sentido das coisas, procuro somente em ser o mais natural e o mais verdadeiro. E o simples é sempre o mais belo (para mim).

11. Interessam-te os temas com que o ser humano se depara, as angústias, as preocupações, os sentimentos e escreves tudo isso de uma forma bastante consciente de metapoesia. Como se desencadeia a escrita? É uma "urgência"?

Não sinto urgência em escrever, sinto apenas por vezes necessidade de passar algo que o meu coração sente, algo que a minha visão capta e algo que a minah mente idealiza para palavras e nelas dar a força e o sentido de todas essas fases.

Penso que por vezes os caracteres, uma simples palavra nos faz pensar, nos faz “ver” a realidade de uma outra forma…e quem sabe nos dar resposta a algo que nos intriga.

Como tal quando escrevo é porque somente me dá prazer e sei que vou ganhar ao faze-lo, pois vou marcar algo que estou a ver, sentir ou a idealizar.


12. Quando começaste a escrever? Alguma razão em particular?

Bem isso não sei…mas desde muito novo tentava escrever algumas coisas…frases soltas, letras de musica (para uma suposta banda que pensava um dia criar). Penso que o facto de gostar imenso de musica fez com que escrevesse mais, ou tentado escrever mais… acho que uma melodia encaixa na perfeição num conjunto de palavras….e se forem ritmadas ainda melhor. Como tal por vezes escrevo idealizando uma melodia para essas palavras…e fazendo isso a minha suposta obra escrita surge.


13. Escolhe um poema do teu livro.

É difícil…para quem escreve, para quem faz muita coisa é sempre difícil escolher algo. No entanto escolho o poema “Reflexão”. Porque? Não sei bem…talvez porque mistura saudade e dor, com esperança e alegria… é uma “super-Mistura” no mesmo texto.



Bem, João, agradeço a tua paciência, boa disposição e extrema simpatia. ;-)

Vou então transcrever o poema que escolheste para que os leitores do Cultura sintam um "cheirinho" do perfume que o teu livro encerra.

Reflexão

Sonhos que sonhei
Pensamentos que pensei
E que para trás tudo deixei.
E que para sempre recordarei.

Novos sonhos sonharei
Bem como novos pensamentos pensarei
Que pela vida frente terei
Iguais aos que sempre desejei.

Lindos dias vivi
Misturados com sentimentos que senti
Muitas vezes neles sorri
E ainda hoje não os esqueci.

Novos dias viverei
Bem como novos sentimentos sentirei
Certamente neles sorrirei
E depois nunca os esquecerei...

Muitos momentos vivi
E muitos momentos viverei.

in "Estados d' Alma" de João Filipe Ferreira [Corpos Editora, pág. 29]