Eis aqui o livro da poetisa Conceição Bernardino Alma Poética da Corpos Editores com um estilo, forma e estrutura muito próprias. Agradeço, humildemente, à autora o interesse em ser entrevistada pelo Cultura e desejo que todos os seus projectos futuros sejam um sucesso.
s.m. Olá Conceição. Em primeiro lugar quero agradecer a sua disponibilidade e simpatia para com o Cultura. Começaremos por falar um pouco de si... Qual é a sua formação e experiência profissional mais relevante?
Conceição Bernardino - Eu é que agradeço. Completei o 12º ano na área de Contabilidade. Ainda frequentei o instituto superior de contabilidade e administração do porto até ao 2º ano, mas por motivos pessoais tive que abandonar os estudos, sempre na qualidade de trabalhadora estudante. A nível profissional a mais relevante foi aos 18 anos, quando tirei um curso de monitora para dar aulas de formação profissional dentro da empresa que trabalhava na área do calçado.
s.m. Para além da escrita tem mais alguma paixão artística que queira partilhar connosco?
C.B. Sim, a minha segunda paixão é o desenho, a pintura mas sem ousadia para seguir esse caminho fico-me pelos rabiscos.
s.m. Noto-a como uma pessoa extremamente sensível e preocupada com o mundo. Aliás, o seu livro é prova disso mesmo. Deseja comentar?
C.B. Não sei se serei mal interpretada, desde muito jovem que os problemas sociais e humanos sempre fizeram parte da minha personalidade. São factores que me chocam muito a desumanidade, o egocentrismo. Embora no meu livro surjam muitos poemas representativos, também procuro que eles sejam esclarecedores para quem os lê.
s.m. Como surgiu o título "Alma Poética"?
C.B. Da entrega com que me dedico à escrita e como se trata de poesia da cumplicidade de escrever com alma.
s.m. Já escreveu prosa/ romance? Considera mais difícil escrever poesia ou prosa?
C.B. Nunca escrevi romance mas penso um dia escrever. Quanto a escrever prosa ou poesia não se trata de graus diferenciados entre dificuldades. Penso que escrever, seja qual for o estilo, não é fácil.
s.m.Será possível levantar um pouco o véu dos seus projectos futuros para os nossos leitores?
C.B. Apesar de escrever já há alguns anos, só no ano passado é que eu comecei a retirar a escrita da gaveta, como se costuma dizer. Não me considero uma escritora, ainda tenho muito que aprender, é claro que tenho projectos mas por vezes falta o fundo de maneio e as conjunturas. Resta-me, continuar a lutar como tenho feito até hoje.
s.m. O seu livro foi editado em que condições?
C.B. O meu livro foi editado pela “Corpos Editora” que investe em novos autores, enviei para lá os meus poemas via mail como faço, para outras editoras, e obtive uma resposta favorável perante a minha situação financeira. Porque é preciso lembrar quem nos lê e quem está inserido no mundo da escrita, que para além do talento, não basta. Conheço imensas pessoas com talento fenomenal que continuam a escrever para a gaveta porque para editar um livro aparecem-nos muitas restrições e uma delas é o autor não ter quem o ajude financeiramente.
s.m. O que pensa das edições de autor?
C.B. Esta pergunta está um pouco relacionada com a anterior, visto que o poder financeiro está sempre em primeiro lugar apesar de, muitas vezes, também termos falta de informação, porque somos novatos nestas caminhadas quer sejamos autores, editores e/ou livreiros. Procurar livrarias que exponham os nossos livros à venda não é nada fácil para quem não tem nome no mercado.
s.m. Qual é a sua opinião em relação ao mundo editorial?
C.B. Muito sinceramente este é um mundo de que ainda não tenho grande conhecimento para poder opinar, mas do pouco que conheço, salve-se quem puder...
s.m. Acha que existem mais leitores de poesia ou romance? E qual será o motivo?
C.B. De romance com toda a certeza, porque as pessoas ainda têm a ideia de que a poesia é muito complexa em termos literários, não existe grande divulgação a nível educacional das partes competentes que elucidem as massas a lerem mais poesia. O romance é mais cativante para os leitores, existe uma história que se vai desenvolvendo com seguimento até atingir a compreensão e o entusiasmo dos leitores.
s.m. O que sentiu com a publicação do seu livro?
C.B. Foi exactamente isto que senti... Essa noite ficará eternamente na minha alma... Os sentimentos misturaram-se em emoções, que a minha mente recorda em cada pedacinho retratado de toda aquela envolvência. O calor humano, a amizade, a afinidade e os abraços que surgiam calorosos de carinho. Estremeci entre a emoção e o nervosismo que me afagava, as palavras que dizia com todo o amor a todos os que se dirigiam a mim. Por momentos sonhei, mas ao desfolhar uma das páginas do meu livro, tive a certeza que ele não me pertencia só a mim, mas sim a todos que fizeram dele uma realidade. Foi então que me apercebi... que o mais importante naquela noite não era o facto de estar a lançar o meu primeiro livrinho... mas sim a ternura que se recebe entre a igualdade das diferenças que se constroem, em amizades.
s.m. Teve algum tipo de formação em Literatura Portuguesa ou Escrita Criativa?
C.B. Não.
s.m. Em termos literários, acredita no termo "inspiração", "transpiração " ou na simbiose?
C.B. Para mim a inspiração tem um elo muito forte com a poesia, se escrevo poesia sobre momentos que já vivi, representativos da minha vida é claro que a vou apresentar como se estivesse a falar de alguém, mas quando a poesia é volúvel sobre vários temas, a fome, guerra, miséria, paisagem, etc. a inspiração está constantemente na minha mente através de factos verídicos com que me deparo, um simples gesto, um olhar para o lado e reparar em pequenas grandes coisas que escapam ao olhar de muita gente. A própria música na maioria das vezes é a minha fonte de inspiração. Quando escrevo outro tipo de literatura, por exemplo, crónicas, aí entra a investigação, a leitura, a metamorfose, tento colocar-me no lugar de quem escrevo. A prosa surge voluntariamente, sim com alguma transpiração e simbiose. Mas sem trabalho nada feito.
s.m. Organiza o seu tempo para escrever?
C.B. Nos tempos livres que me sobram entre as tarefas múltiplas que ocupam os meus dias.
s.m Como caracteriza o seu processo de escrita?
C.B. Simples, humilde para que todos os que lêem possam compreender a mensagem que tento transmitir. Que possam reflectir.
s.m. Noto no seu livro uma grande disciplina em termos de estruturação dos poemas. Qual a razão?
C.B. Talvez porque, saem da forma mais elementar, ingénua da alma que me alimenta as palavras.
s.m. Alguma vez se aventurou no mundo dos Prémios Literários? (Em caso afirmativo, indique aqueles que ganhou.)
C.B. Já, em concursos de poesia mas nunca ganhei nenhum prémio.
s.m. Quando começou a escrever?
C.B. Os tempos levam-me a memória, mas sei que foi na minha adolescência quando precisei de confidenciar com alguém, tudo aquilo que o nosso pensamento constrói sufocado dentro de quatro paredes. É fácil falar, ser um bom ouvinte é complicado... Quando o silêncio nos cala a dor, as palavras são as nossas mais fiéis companheiras.
s.m. Que autores lê frequentemente?
C.B. Sinceramente, não tenho autores pré definidos, leio um pouco de tudo se falar de autores teria que mencionar imensos. Mas posso divulgar alguns: Florbela Espanca, Pablo Neruda, Paulo Coelho, Augusto Cury, Carlos Simão, Fernando Costa Soares, Sebastião Estácio da Veiga, Louise L. Hay, Isabel Allende, entre tantos outros, mas não posso deixar de mencionar os novos autores: Pedro Lopes, Maria Petronilho, Alexandra Caracol, Marita Ferreira, Bruno Pereira, Margarete da Silva, Paz Kardo, Lucia Ribeiro, Rosa Anselmo pois ajudam-nos a visualizar o futuro.
s.m. Qual é o seu livro e autor preferidos? Porquê?
C.B. Um dos meus livros preferidos e que me marcou muito foi: “Os filhos da Droga” da autora Christiane F. Pela complexidade e pela descrição que retrata a actualidade ao ler este livro, era eu ainda uma adolescente, fiquei estupefacta com uma realidade marcante que hoje se transformou num flagelo da nossa sociedade.
s.m. Que conselho daria a quem sonha retirar da gaveta as suas palavras?
C.B. Para ter coragem e expor os seus escritos, tendo noção que nada é fácil mas que vale sempre a pena lutar pelos nossos sonhos. A riqueza interior, ninguém nos tirará, será sempre o nosso maior presente.
s.m. Escolha um poema, do seu livro, para acompanhar a sua entrevista.
Conceição Bernardino - Eu é que agradeço. Completei o 12º ano na área de Contabilidade. Ainda frequentei o instituto superior de contabilidade e administração do porto até ao 2º ano, mas por motivos pessoais tive que abandonar os estudos, sempre na qualidade de trabalhadora estudante. A nível profissional a mais relevante foi aos 18 anos, quando tirei um curso de monitora para dar aulas de formação profissional dentro da empresa que trabalhava na área do calçado.
s.m. Para além da escrita tem mais alguma paixão artística que queira partilhar connosco?
C.B. Sim, a minha segunda paixão é o desenho, a pintura mas sem ousadia para seguir esse caminho fico-me pelos rabiscos.
s.m. Noto-a como uma pessoa extremamente sensível e preocupada com o mundo. Aliás, o seu livro é prova disso mesmo. Deseja comentar?
C.B. Não sei se serei mal interpretada, desde muito jovem que os problemas sociais e humanos sempre fizeram parte da minha personalidade. São factores que me chocam muito a desumanidade, o egocentrismo. Embora no meu livro surjam muitos poemas representativos, também procuro que eles sejam esclarecedores para quem os lê.
s.m. Como surgiu o título "Alma Poética"?
C.B. Da entrega com que me dedico à escrita e como se trata de poesia da cumplicidade de escrever com alma.
s.m. Já escreveu prosa/ romance? Considera mais difícil escrever poesia ou prosa?
C.B. Nunca escrevi romance mas penso um dia escrever. Quanto a escrever prosa ou poesia não se trata de graus diferenciados entre dificuldades. Penso que escrever, seja qual for o estilo, não é fácil.
s.m.Será possível levantar um pouco o véu dos seus projectos futuros para os nossos leitores?
C.B. Apesar de escrever já há alguns anos, só no ano passado é que eu comecei a retirar a escrita da gaveta, como se costuma dizer. Não me considero uma escritora, ainda tenho muito que aprender, é claro que tenho projectos mas por vezes falta o fundo de maneio e as conjunturas. Resta-me, continuar a lutar como tenho feito até hoje.
s.m. O seu livro foi editado em que condições?
C.B. O meu livro foi editado pela “Corpos Editora” que investe em novos autores, enviei para lá os meus poemas via mail como faço, para outras editoras, e obtive uma resposta favorável perante a minha situação financeira. Porque é preciso lembrar quem nos lê e quem está inserido no mundo da escrita, que para além do talento, não basta. Conheço imensas pessoas com talento fenomenal que continuam a escrever para a gaveta porque para editar um livro aparecem-nos muitas restrições e uma delas é o autor não ter quem o ajude financeiramente.
s.m. O que pensa das edições de autor?
C.B. Esta pergunta está um pouco relacionada com a anterior, visto que o poder financeiro está sempre em primeiro lugar apesar de, muitas vezes, também termos falta de informação, porque somos novatos nestas caminhadas quer sejamos autores, editores e/ou livreiros. Procurar livrarias que exponham os nossos livros à venda não é nada fácil para quem não tem nome no mercado.
s.m. Qual é a sua opinião em relação ao mundo editorial?
C.B. Muito sinceramente este é um mundo de que ainda não tenho grande conhecimento para poder opinar, mas do pouco que conheço, salve-se quem puder...
s.m. Acha que existem mais leitores de poesia ou romance? E qual será o motivo?
C.B. De romance com toda a certeza, porque as pessoas ainda têm a ideia de que a poesia é muito complexa em termos literários, não existe grande divulgação a nível educacional das partes competentes que elucidem as massas a lerem mais poesia. O romance é mais cativante para os leitores, existe uma história que se vai desenvolvendo com seguimento até atingir a compreensão e o entusiasmo dos leitores.
s.m. O que sentiu com a publicação do seu livro?
C.B. Foi exactamente isto que senti... Essa noite ficará eternamente na minha alma... Os sentimentos misturaram-se em emoções, que a minha mente recorda em cada pedacinho retratado de toda aquela envolvência. O calor humano, a amizade, a afinidade e os abraços que surgiam calorosos de carinho. Estremeci entre a emoção e o nervosismo que me afagava, as palavras que dizia com todo o amor a todos os que se dirigiam a mim. Por momentos sonhei, mas ao desfolhar uma das páginas do meu livro, tive a certeza que ele não me pertencia só a mim, mas sim a todos que fizeram dele uma realidade. Foi então que me apercebi... que o mais importante naquela noite não era o facto de estar a lançar o meu primeiro livrinho... mas sim a ternura que se recebe entre a igualdade das diferenças que se constroem, em amizades.
s.m. Teve algum tipo de formação em Literatura Portuguesa ou Escrita Criativa?
C.B. Não.
s.m. Em termos literários, acredita no termo "inspiração", "transpiração " ou na simbiose?
C.B. Para mim a inspiração tem um elo muito forte com a poesia, se escrevo poesia sobre momentos que já vivi, representativos da minha vida é claro que a vou apresentar como se estivesse a falar de alguém, mas quando a poesia é volúvel sobre vários temas, a fome, guerra, miséria, paisagem, etc. a inspiração está constantemente na minha mente através de factos verídicos com que me deparo, um simples gesto, um olhar para o lado e reparar em pequenas grandes coisas que escapam ao olhar de muita gente. A própria música na maioria das vezes é a minha fonte de inspiração. Quando escrevo outro tipo de literatura, por exemplo, crónicas, aí entra a investigação, a leitura, a metamorfose, tento colocar-me no lugar de quem escrevo. A prosa surge voluntariamente, sim com alguma transpiração e simbiose. Mas sem trabalho nada feito.
s.m. Organiza o seu tempo para escrever?
C.B. Nos tempos livres que me sobram entre as tarefas múltiplas que ocupam os meus dias.
s.m Como caracteriza o seu processo de escrita?
C.B. Simples, humilde para que todos os que lêem possam compreender a mensagem que tento transmitir. Que possam reflectir.
s.m. Noto no seu livro uma grande disciplina em termos de estruturação dos poemas. Qual a razão?
C.B. Talvez porque, saem da forma mais elementar, ingénua da alma que me alimenta as palavras.
s.m. Alguma vez se aventurou no mundo dos Prémios Literários? (Em caso afirmativo, indique aqueles que ganhou.)
C.B. Já, em concursos de poesia mas nunca ganhei nenhum prémio.
s.m. Quando começou a escrever?
C.B. Os tempos levam-me a memória, mas sei que foi na minha adolescência quando precisei de confidenciar com alguém, tudo aquilo que o nosso pensamento constrói sufocado dentro de quatro paredes. É fácil falar, ser um bom ouvinte é complicado... Quando o silêncio nos cala a dor, as palavras são as nossas mais fiéis companheiras.
s.m. Que autores lê frequentemente?
C.B. Sinceramente, não tenho autores pré definidos, leio um pouco de tudo se falar de autores teria que mencionar imensos. Mas posso divulgar alguns: Florbela Espanca, Pablo Neruda, Paulo Coelho, Augusto Cury, Carlos Simão, Fernando Costa Soares, Sebastião Estácio da Veiga, Louise L. Hay, Isabel Allende, entre tantos outros, mas não posso deixar de mencionar os novos autores: Pedro Lopes, Maria Petronilho, Alexandra Caracol, Marita Ferreira, Bruno Pereira, Margarete da Silva, Paz Kardo, Lucia Ribeiro, Rosa Anselmo pois ajudam-nos a visualizar o futuro.
s.m. Qual é o seu livro e autor preferidos? Porquê?
C.B. Um dos meus livros preferidos e que me marcou muito foi: “Os filhos da Droga” da autora Christiane F. Pela complexidade e pela descrição que retrata a actualidade ao ler este livro, era eu ainda uma adolescente, fiquei estupefacta com uma realidade marcante que hoje se transformou num flagelo da nossa sociedade.
s.m. Que conselho daria a quem sonha retirar da gaveta as suas palavras?
C.B. Para ter coragem e expor os seus escritos, tendo noção que nada é fácil mas que vale sempre a pena lutar pelos nossos sonhos. A riqueza interior, ninguém nos tirará, será sempre o nosso maior presente.
s.m. Escolha um poema, do seu livro, para acompanhar a sua entrevista.
Insanidade perfeita
Sinto-me cansada
Já me faltam as palavras!
As que saboreio entre dissabores
Da minha própria loucura
Já não sinto o meu corpo
As vogais consomem-no
Adormece em brandas consoantes
Ficam tantas frases por dizer
Aquelas,
Que já não consigo escrever,
Falta-me a força
A caneta começa a tremer
Soluça.
O meu olhar constrói
O que meu pensamento rejeita
Esta sou, eu
A doce mulher
A insana, poeta...
in Alma Poética de Conceição Bernardino [pág. 24]